O selloff global das últimas horas pode ser uma oportunidade para os ativos brasileiros – mas há o risco de o Brasil, mais uma vez, perder a oportunidade.
O Ibovespa hoje caiu menos que os índices das principais bolsas do mundo. Existe uma explicação técnica: os investidores estrangeiros estão com uma exposição baixíssima à Bolsa brasileira e, numa onda de baixa, os ativos com maior fluxo são negociados primeiro – o que não é o caso das nossas empresas.
Mas olhando para frente, agora que dois grandes detratores das ações brasileiras estão perdendo força – a inflação e os juros altos no mundo e a onda de investimentos em tecnologia – será que o mercado doméstico pode ganhar algum impulso?
Na teoria, sim. Números mais fracos da economia americana, divulgados na semana passada, podem levar o Fed a cortar os juros, o que beneficiaria investimentos de maior risco – isso, claro, se não houver uma recessão nos EUA, o que ainda é visto como pouco provável.
Até duas semanas atrás, quem estava atrás de risco investia em tech, e não em mercados emergentes. Mas com as dúvidas sobre o retorno que as empresas vão conseguir de fato com IA, os investidores estão buscando outros ativos de risco.
Se o Brasil vai conseguir ganhar de fato com essa mudança de cenário é outra história. De um lado, estão casas otimistas como a Empiricus.
“Se nós fomos um dos mercados mais afetados negativamente quando o juro subiu, deveríamos ser um dos maiores beneficiados quando o juro cair,” diz Felipe Miranda, fundador e estrategista-chefe da Empiricus Research.
“Além disso, quando o investidor decide sair de growth para value, busca todo o resto, inclusive mercados emergentes, inclusive aquilo que ficou muito para trás, como é o caso brasileiro.”
Mas o Brasil tem fundamentos ruins que têm tudo para atrapalhar esse final feliz, diz André Jakurski, o fundador do Pactual e JGP. “O investidor precisa buscar algo que vai subir, não que vai cair menos que outros mercados.”
Na visão de Jakurski, o selloff foi causado por uma correção da exuberância dos meses anteriores, e não pelos fatores que vêm sendo apontados como os motivos da baixa, como os números mais fracos da economia americana e a valorização do iene. “São desculpas, catalisadores,” diz.
“A euforia, especialmente com IA, foi muito grande”, diz Jakurski. “Havia aquele fear of missing out. Quem pensa assim compra mal e é o primeiro a vender quando acontece qualquer reviravolta.”
Fernando Ferreira, o estrategista-chefe da XP, enxerga o risco de um cenário de aversão a risco resultar numa nova desvalorização do real. Isso pressionaria a inflação e poderia levar o BC brasileiro a aumentar os juros, prejudicando os ativos de risco.
A alta do iene e dos juros no Japão está provocando o desmonte das operações de carry trade feitas em iene, e não se sabe quando esse movimento vai terminar, o que pode gerar novas reações no câmbio, diz Ferreira. “Esse é o ponto que preocupa: o efeito do câmbio sobre a inflação e, portanto, os juros.”
No fim do dia, quando o mercado fechou, o Ibovespa perdeu 0,5% e o dólar – que chegou a bater R$ 5,86 ao longo do dia – terminou em R$ 5,74, com uma alta de 0,6%.
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