Minha viagem ao Atacama, com sua paisagem lunar e ‘pessoas do deserto’

SAN PEDRO DE ATACAMA, Chile – A viagem a esta terra mística e de paisagens acachapantes começa num voo São Paulo-Santiago. Depois de um rápido layover, pega-se outro Latam para Calama, a principal cidade da região e um dos lugares mais secos do mundo. Mais duas horas de carro – no máximo – e você chega aqui, ainda a tempo de ver o sol se pôr no deserto.

Existem alguns hotéis bons em San Pedro de Atacama, mas acho impossível algum bater o Awasi, que tem apenas 12 quartos e um staff de 84 pessoas (!!!) – incluindo as gerentes brasileiras Jucélia e Kim. 

Esse Relais & Châteaux está entre os hotéis mais charmosos e acolhedores em que já me hospedei. Além do Atacama, o Awasi também está na Patagônia e em Iguazú — e seus hotéis são sempre carbon neutral.

Meu primeiro dia no deserto começou com uma caminhada pelo Vale da Lua. (Na verdade, não fomos exatamente para o Vale da Lua, e sim para o adjacente Vallecito por recomendação do Cristobal, nosso guia do Awasi, que descreveu o Vallecito como igualmente bonito e muito menos turístico). 

De fato, éramos só nós dois caminhando pelas dunas. Ali foi o primeiro momento em que senti a força do deserto: uma paisagem lunar em que você não vê absolutamente ninguém e SABE que está no meio do nada.  (Bom para um detox de iPhone – até porque o celular ali não pega.)

À tarde, fomos conhecer Toconao, um vilarejo bucólico que parece parado no tempo. Foi muito interessante ver árvores de romã, limoeiros e laranjeiras florescendo nos jardins da cidade – o proverbial oásis no meio do deserto. Foi também a primeira vez que vi a linda madeira proveniente de cactos. 

Em seguida visitamos a reserva de flamingos, e terminamos o dia assistindo um dos pores do sol mais bonitos que já vi. Acompanhados de chá, frutas e queijos locais, assistimos o céu mudar de cor mil vezes enquanto ouvíamos sobre as lendas que cercam os vulcões da região.

No dia seguinte, acordamos cedo para ver os gêiseres em erupção. O pessoal do hotel prepara o café da manhã e monta tudo ali, na beira das nascentes termais. Juro: se naquele momento alguém tivesse dito que estávamos em Marte, eu teria acreditado.  

Depois do café da manhã com ovos mexidos inolvidables, saímos a pé para explorar o vale. Uma das coisas que mais me impressionou foi ver que o Cristobal rapidamente me sacou, adaptando os planos para me atender ainda melhor. 

Percebendo que sou fanática por trilhas, ele começou a inseri-las nos nossos passeios. Caminhar em silêncio por entre alpacas, vicunhas, guanacos (um outro tipo de lhama) e viscachas (um bichinho simpático da família dos roedores) foi simplesmente inesquecível.

Depois do almoço, aproveitei para conhecer a cidadezinha de San Pedro de Atacama. Como uma vila tão pequena pode ser tão animada?  Para fechar o dia com chave de ouro, fomos ainda a um observatório no meio do deserto para ver as estrelas. Demos sorte: julho é considerado o melhor mês para observar o céu no Atacama. (Me senti minúscula, mas feliz, contemplando a nossa Via Láctea.)

O último dia no deserto começou com um passeio que me foi fortemente recomendado: andar a cavalo pelo Vale de Marte. Saímos eu, Cristobal e “Don Ronald,” o figura que cuida dos cavalos, para uma cavalgada em meio às dunas de areia. Foi maravilhoso e deixou um gosto de quero mais.

Já a caminho do aeroporto paramos no Vale do Arco-Íris, que leva este nome pela variedade de cores das pedras que o compõem. Fiquei tão fascinada que saí com os bolsos carregados de cristais, talvez uma tentativa de levar um pouquinho da mágica do deserto para casa.

Quanto mais viajo, mais aprendo a viajar. Se em algum momento pensei que as melhores viagens seriam aquelas em que eu voltaria com todos os itens da lista ticados, hoje sei que minhas jornadas favoritas não envolvem checklists

Algumas podem até ter roteiros, mas os melhores momentos são quando fujo deles. Aprendi que é menos sobre destinos badalados, e mais sobre lugares que ainda conseguem preservar suas raízes. 

E foi no auspicioso deserto do norte do Chile que compreendi a lição mais importante: são pessoas, e não lugares, que proporcionam as melhores jornadas. 

Cristobal, Victor, Juan Ignacio, Brian, Stephanie, Jucélia, Kim e Don Ronald são minhas amadas pessoas do deserto, que transformaram uma linda viagem em uma experiência que levarei para o resto da vida.

Paula Nazarian é autora da newsletter Newz da NAZA.

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