Pouca gente sabe, mas os transtornos mentais começam bem mais cedo do que se imagina.
No mundo, 75% de todos os casos de doenças mentais dão seus primeiros sinais antes dos 24 anos, enquanto 50% dos casos aparecem antes dos 14.
Apesar disso, são poucos os casos diagnosticados precocemente: 80% dos jovens convivem pelo menos 10 anos com a doença antes de receber um diagnóstico.
Essas estatísticas assustadoras levaram três amigos com backgrounds muito diferentes a tentar fazer algo a respeito.
Rodrigo Bressan, um psiquiatra e professor da Unifesp, Marco Kheirallah, um dos sócios da Lumina Capital, e Cristiana Pipponzi, que fez carreira em multinacionais e hoje é conselheira de empresas como a RD Saúde e o Santander Brasil, se uniram para fundar o Instituto Ame Sua Mente — uma ONG que atua dentro de escolas públicas dando cursos de formação sobre saúde mental para os professores.
“Tudo na saúde tem ido na direção de buscar o diagnóstico precoce, porque poucas coisas que você descobre cedo não tem um desfecho favorável,” Kheirallah disse ao Brazil Journal.
“E o primeiro evento de transtorno mental está acontecendo com os jovens muito cedo, mas ninguém está vendo. Estão taxando ele de preguiçoso, inquieto, folgado.”
O envolvimento de Kheirallah com a temática de saúde mental começou com uma experiência pessoal. Ele teve síndrome de pânico e transtorno bipolar, e seus filhos também já sofreram com problemas de saúde mental.
“Em cada uma dessas situações a distância entre a dor e conhecer o problema foi rápida para mim, porque eu fui na casa do Rodrigo [Bressan] me consultar e já fiquei sabendo o que eu tinha,” disse o sócio da Lumina.
Kheirallah viu que o problema não era uma exclusividade sua, e que devia haver muitas pessoas passando por aquilo silenciosa e solitariamente. “É nessa hora que você começa a entender o suicídio, que é uma solução para uma pessoa que não encontrou uma solução.”
O principal produto da Ame Sua Mente é um curso de formação para professores com duração de 32 horas em 7 módulos: cinco deles tratam de transtornos mentais específicos, um é introdutório, e o outro sobre a melhor forma de fazer o encaminhamento dos jovens.
Bressan diz que esse letramento é importante para os professores terem uma linguagem comum para entender o tema e conseguir identificar os transtornos.
“Mas além do letramento, também produzimos diretrizes para as escolas sobre como tratar questões de saúde mental como o bullying, as drogas, a auto lesão e o risco de suicídio.”
A Ame Sua Mente atua em parceria com as Secretarias de Educação dos estados e, por enquanto, opera apenas em São Paulo. Ela já está em 1,5 mil escolas e na última formação teve mais de 2 mil professores inscritos — um número que deve escalar rapidamente.
Para se ter uma ideia, a ONG já recebeu 8 mil inscritos para o seu próximo curso, que vai do dia 12 de agosto até o dia 15 de novembro.
“O impacto disso é gigante. Cada professor tem alcance de umas 35 crianças, então com esses 8 mil vamos impactar mais de 300 mil jovens,” disse Bressan.
Em São Paulo, o curso da Ame Sua Mente foi incluído na grade oficial de formação dos professores, passando a contar pontos para a progressão de carreira.
O objetivo da ONG é expandir para todo o Brasil, começando pelo Paraná.
O custo de escalar a operação é baixo, já que a formação é online e já está pronta.
“Mas não queremos só disponibilizar o curso. Queremos mudar a cultura das escolas em relação à saúde mental e fazer mudanças estruturantes. Para isso, temos que atuar junto das escolas e aumentar o impacto nos colégios onde já estamos, seja treinando mais professores ou trabalhando mais próximo com a direção,” disse Bressan.
Para Kheirallah, o trabalho da Ame Sua Mente é importante porque a falta de diagnóstico é uma “morte silenciosa.”
“A droga, o furto e a evasão são sintomas disso. Sem o diagnóstico, essa criança vai morrendo aos poucos e ninguém percebe.”
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