OPINIÃO. O limite da política como entretenimento

Não é coincidência que a cena mais pitoresca da eleição paulistana tenha reunido dois candidatos oriundos do showbusiness, o apresentador José Datena (PSDB) e o influenciador Pablo Marçal (PRTB). 

Mesmo pertencendo a gerações diferentes, ambos são parte do fenômeno que trata a política como entretenimento. A agressão ao vivo é reflexo do vale-tudo por audiência que essa nova campanha exige dos candidatos.

Discutir temas públicos sob a ótica do entretenimento é uma forma de atrair eleitores frequentemente entediados com os políticos tradicionais.  Daqui para frente, essa diluição das fronteiras entre o showbusiness e a política é uma realidade que se impõe aos partidos e forçará uma revisão dos métodos das escolas tradicionais de marketing eleitoral. 

Chama atenção a necessidade crescente de produzir conteúdo para manter o engajamento da audiência/eleitores. Jair Bolsonaro, por exemplo, trouxe discurso politicamente incorreto e um revisionismo histórico tanto como forma de chocar o establishment quanto de se colocar no centro do debate político. 

Pablo Marçal eleva isso à enésima potência, flertando até com o grotesco e provocando um forte estresse no debate público, na cobertura feita pela mídia e, como se viu, nos outros candidatos.

Aplicando técnicas das redes sociais à campanha política, Marçal traz a velocidade do mundo digital para o mundo político. Para isso, ele precisa sempre de uma nova denúncia, de provocações mais agressivas, de conflitos mais intestinos e de propostas disruptivas, mesmo que impraticáveis. 

Datena também é dessa escola, mas de uma época analógica, de quando a TV agia como gatekeeper, isto é, como um seletor do que era ou não consumido pelas pessoas de forma massiva. 

Tratava-se de um ambiente bem mais controlado e seguro. Assim, Datena imaginou que o papel de pedra a estilhaçar as vidraças do atual prefeito Ricardo Nunes estava reservado para ele. Não contava, no entanto, em ser atropelado pelo novo (não necessariamente melhor ou pior).

A cadeirada materializa esse conflito de gerações.  

Marçal muda os parâmetros das campanhas eleitorais, e não é exagero afirmar que a eleição paulistana se dá, hoje, em torno dele. Mas isso significa que temos um novo campeão?

Essa pergunta é menos sobre Marçal do que sobre a validade da política como entretenimento. 

Qual a durabilidade desses influenciadores na política, considerando que a necessidade maluca de produzir conteúdo não chega nem perto da velocidade com a qual as coisas acontecem na política?

O quanto os excessos que os influenciadores cometem não cansam o eleitor?

As pessoas perceberão que a opção pelo entretenimento pode até funcionar numa campanha, mas tende a ser disfuncional na hora que o diálogo for necessário para resolver os problemas da cidade?

Todas essas perguntas serão respondidas pelo grande experimento social que se tornou a eleição de São Paulo. 

Os resultados terão consequências para o futuro em questões de conteúdo (o comportamento ético, por exemplo) e de forma (toda a estética de uma campanha), e vão ecoar nas eleições gerais de 2026 em todos os níveis. No final, é o eleitor quem dirá em que medida a política como entretenimento será o novo paradigma da forma como escolhemos nossos líderes. 

Karim Miskulin é a fundadora do Grupo VOTO. 

Leonardo Barreto é cientista político e analista do Grupo VOTO.

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