A Asaas — que opera uma conta PJ para PMEs com automações e ferramentas de gestão — acaba de levantar R$ 820 milhões numa rodada liderada pela BOND, a gestora de São Francisco fundada por Mary Meeker, a veterana analista de tecnologia que fez carreira no Morgan Stanley antes de migrar para o venture capital.
A captação também teve a participação do Softbank e da 23S Capital, a gestora de private equity que é uma joint venture entre o Temasek e o Grupo Votorantim.
Para a BOND, este é seu segundo investimento no Brasil, depois de haver investido na CRMBonus em maio.
A Bond foi um dos primeiros cheques de empresas como o Uber, Meta, Airbnb, Spotify e Stripe. Na América Latina, já havia investido na dLocal, do Uruguai, e na Kavak, do México.
O fundador Piero Contezini disse ao Brazil Journal que a startup de Joinville começou o processo de captação em abril, e fez um roadshow de 23 dias nos Estados Unidos. “Falamos com 30 fundos e no final de junho recebemos algumas propostas,” disse ele. “Escolhemos a BOND porque achamos que ela vai poder nos ajudar a definir nossa categoria de negócios.”
Piero disse que a BOND tem muita especialidade nisso, já que ajudou a criar a categoria de ride sharing para o Uber e de home sharing para o Airbnb.
No caso da Asaas, a ideia é fazer o que a Stone tentou (sem sucesso) fazer com a Linx – ou seja, criar uma solução que una serviços financeiros com software de gestão, permitindo que as empresas encontrem num único lugar tudo que precisam para tocar seu negócio.
A startup está chamando essa solução de ‘um sistema operacional para os negócios’.
“No mundo, tem empresas que estão fazendo isso de forma vertical, como a Toast, que criou uma espécie de sistema operacional para os restaurantes que vai desde o POS até a entrega das verduras e frutas,” disse o cofundador. “Mas eles não têm a parte de serviços financeiros, oferecem só os serviços de terceiros.”
A Asaas quer fazer a mesma coisa, com a diferença de ser uma instituição financeira e de fazer isso de forma horizontal (para todos os setores e não apenas um, como a Toast).
A startup não revelou o valuation da rodada de hoje, mas Piero disse que a diluição foi a mais baixa das três rodadas, e que a Asaas agora está perto de se tornar um unicórnio. “Já estamos começando a ver os chifrinhos,” disse, rindo.
A Asaas tem 180 mil clientes ativos e deve faturar R$ 400 milhões este ano. A meta é chegar a R$ 1 bilhão de top line em 2026 e a R$ 2 bilhões no ano seguinte.
O plano é usar um terço dos recursos para fortalecer seu índice de Basileia, o que vai permitir acelerar muito o crescimento do negócio; outro terço para desenvolvimento, com a contratação de engenheiros de software; e o restante para M&As.
A empresa já fez três aquisições nos últimos anos, todas com o mesmo perfil: adicionar novos produtos para seu portfólio. A mais recente foi a compra da NexInvoice, que tem um software de automação do ‘contas a pagar’.
“Nos próximos M&As nossa ideia é continuar com esse perfil de produtos,” disse Piero. “Em PMEs, é muito difícil fazer aquisições de base de clientes, porque na maioria das vezes o cliente cancela as contas nessa transição.”
A Asaas nasceu dentro de uma software house que Piero tinha com seu irmão, Diego. Na época, eles criaram um software que automatizava a cobrança dos boletos das empresas — enviando emails para o cliente final, mensagens de texto e ligações com bot de voz.
Quando venderam o negócio em 2014, os Contezini fizeram um spinoff daquele software, dando origem à Asaas.
De lá para cá, começaram a adicionar novos serviços na plataforma, como conta digital, cartão pré-pago, antecipação de recebíveis e funcionalidades de gestão dos negócios. A Asaas não cobra pelos softwares: sua receita vem de uma comissão de cerca de 1% sobre o volume transacionado pelos clientes.
Hoje, 50% da receita ainda vem deste produto inicial, que ajuda as empresas a fazer o chamado ‘cash in’ — receber o dinheiro do cliente. Outra parte relevante vem do produto de ‘cash out’, que ajuda, por exemplo, a agendar os pagamentos das empresas e mandar comprovantes de forma automatizada.
Na parte de ERP, a Asaas oferece soluções de gestão de fluxo de caixa, emissão de proposta comercial, e ordem de serviço.
Há ainda a camada de crédito, onde a startup está focando na antecipação de recebíveis, ajudando no capital de giro das empresas.
Segundo Piero, a parte de ‘cash in’ e ‘cash out’ já está bem desenvolvida, e o foco daqui para frente será melhorar a parte de gestão e de crédito.
A rodada de hoje deve ser a última antes de um IPO da Asaas. O cofundador disse que a empresa tem planos de acessar o mercado em 2028, provavelmente com uma abertura de capital nos Estados Unidos. Até lá, ele disse que os recursos da rodada são mais do que suficientes para o plano de expansão da empresa, que já gera caixa há anos.
“Nossa ideia é continuar focando só no Brasil até o IPO, até porque ainda tem um mercado gigantesco para conquistarmos aqui. Depois que abrirmos o capital e tivermos mais liquidez, nossa ideia é voltar nesse assunto de internacionalização.”
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