Três anos depois de seu divórcio na CNN Brasil, Rubens Menin e Douglas Tavolaro se preparam para travar uma guerra pela audiência com o lançamento simultâneo de dois canais de TV focados em economia e negócios.
O CEO e sócio de Rubens na CNN, João Camargo, não deixa dúvidas sobre o que será esta guerra.
“Nós seremos o único canal que vai sobreviver nos próximos 12 meses.”
Mas e a CNBC?
“CNBC não é canal, é uma licença de transmissão.”
Tavolaro – o ex-vp de jornalismo da TV Record que lançou a CNN Brasil em 2020 com um investimento de Menin – também não esconde o tamanho do embate.
Aos amigos, diz que a CNN Money está sendo lançada de afogadilho, só para tentar atrapalhar o lançamento da CNBC, o icônico canal americano que é um must watch em Wall Street.
Tavolaro tem 85% da CNBC Brasil. Seu sócio minoritário é o Attention Economics (AE), um fundo especializado em empreendimentos de mídia digital. O managing partner do AE é Greg Beitchman, um ex-vp comercial da Warner e da CNN International.
Em conversas com o mercado, Tavolaro lança dúvidas sobre como a CNN Money conseguirá gerar conteúdo suficiente para uma transmissão 24 horas sem ter material da CNN disponível para reprodução – já que a emissora de Atlanta não possui outros canais CNN Money pelo mundo.
Enquanto a expansão do mercado de jornalismo é sempre bem-vinda, a dúvida no mercado é se haverá audiência e publicidade para justificar dois canais atuando no mesmo nicho.
“Sempre tem espaço quando o conteúdo é de qualidade,” diz Erh Ray, o CEO da agência BETC Havas, uma das maiores compradoras de mídia do País. “Mas não tem segredo: precisa de audiência para justificar e atrair os investimentos dos anunciantes.”
Para Pipo Calazans, o CEO da DM9, o grande desafio para os dois canais será a execução do modelo de multiplataforma – em que o conteúdo é distribuído na TV a cabo, web, streaming, redes sociais e mídia out-of-home.
“Espaço, há, mas como diria meu pai: A ver.”
O duelo vai ser acirrado desde o Day One: os dois canais vão estrear praticamente no mesmo dia. A CNBC Brasil (o canal é em português, mas a ordem é chamá-la de “ci, en, bi, ci”) estreia em 3 de novembro; a CNN Money, no dia seguinte.
A disputa já se estendeu para a agenda dos políticos.
A festa de lançamento da CNBC vai ser no dia 1º de novembro no Grand Hyatt de São Paulo, e os organizadores dizem que o Presidente Lula confirmou presença, além de outros políticos e ministros.
Já a CNN Money pretende reunir 1.000 pessoas no dia 4 na Casa Fasano; autoridades e políticos também são esperados, até porque João Camargo é o dono da Esfera, hoje a empresa dominante em eventos que reúnem políticos e empresários.
Apesar de todo o glamour e capacidade de influência, canais de televisão sempre foram um negócio traiçoeiro, com custos que sorvem montanhas capital em troca de retornos duvidosos.
Os próprios donos de TV são os primeiros a confidenciar que a vida é dura; e com o avanço da mídia online (leia-se a publicidade no Google) na última década, até os Marinho tiveram que cortar custos na carne nos últimos anos.
Como audiência não se constrói da noite pro dia, a sobrevivência dos novos entrantes, na prática, será decidida no mercado publicitário.
A CNBC diz que já tem 14 anunciantes fundadores, e que vai chegar a 15 ou 16 até o dia da estreia. A CNN Money diz que tem 6 e “já é superavitária só com esses,” segundo João Camargo, que se tornou sócio de Menin na CNN Brasil com uma agenda de cortar custos e aumentar a receita.
A CNBC investiu mais de R$ 100 milhões para aparelhar o novo canal, segundo estimativas do mercado. Já a CNN Money está mais para uma marca nova do que um canal novo, já que vai aproveitar os jornalistas e técnicos da CNN Brasil, que tem 550 profissionais. A empresa promete pagar um extra a quem já é da casa, diz que vai contratar outras 45 pessoas e fazer só um estúdio novo.
Coincidentemente, nem Douglas nem Camargo querem estimar seu faturamento potencial.
A CNBC terá notícias, realities e esportes, sempre conectados com o mundo dos negócios – além de uma boa dose de programação licenciada da CNBC americana.
A CNN Money diz que não pretende “reinventar a roda”, e pretende reproduzir o modelo da finada TV Bloomberg: um apresentador de um lado da tela, gráficos do outro.
A CNBC quer popularizar o noticiário de economia e negócios. A CNN Money, também.
A CNBC vai estar no YouTube. A CNN Money, também.
A CNBC foi anunciada em março. A CNN Money surgiu em setembro, mas João Camargo garante que eles já planejavam o novo canal há um ano e meio, sob o escrutínio da CNN International.
A CNBC se gaba de ser “completamente independente” e de não ter “um banco como sócio” (mas afirma que terá 3 bancos patrocinadores). A CNN Money é de Menin, cuja família controla o Banco Inter.
A CNBC projeta que vai atingir 50 milhões de pessoas. A CNN Money diz que já é dona do terceiro site de maior audiência do País e que, ano que vem, vai virar um portal.
A CNBC apresenta aos seus anunciantes nomes do jornalismo de entretenimento (como Zeca Camargo) e de esportes (como Carol Barcellos), mas ainda não mostrou nenhum nome sênior do jornalismo econômico.
A CNN Money aposta 100% em jornalistas especializados em economia e negócios, como Fernando Nakagawa e Thais Herédia.
A CNBC terá Christiane Pelajo. A CNN Money, William Waack.
Como bem dizia Ed Murrow, o papa do jornalismo americano: Boa noite… e boa sorte!
O posto CNBC x CNN Money: o duelo pela audiência (e pelos patrocinadores) apareceu primeiro em Brazil Journal.