A Cosan anunciou ontem à noite a maior reestruturação de sua liderança desde o IPO há 20 anos.
Rubens Ometto instalou como CEO Marcelo Martins – seu braço-direito e o executivo responsável por todos os M&As da companhia – e entregou a Nelson Gomes, o ex-CEO da Compass e atual CEO da Cosan, a missão de executar um turnaround na Raízen, que enfrenta o ceticismo do mercado sobre suas entregas.
Martins conversou com o Brazil Journal sobre como a Cosan pretende superar os desafios e voltar à sua velha forma.
Por que o Rubens decidiu fazer essas mudanças agora?
O Rubens é um cara muito pragmático. Sempre foi e continua sendo. Ele viu que a Raízen, ainda que com uma performance razoável, não tem gerado caixa suficiente para continuar com seu plano agressivo de crescimento e reduzir sua alavancagem. Nesta situação, ela também não tem conseguido pagar dividendos nos patamares históricos.
Os acionistas da Raízen têm a expectativa de que ela seja a top performer no seu setor.
O etanol de segunda geração tem se provado um negócio difícil, mas vocês têm uma sócia, a Shell, que está muito comprometida com a transição energética. Nos últimos anos, a cabeça da Shell e a de vocês tem evoluído a respeito desse negócio?
Nós acreditamos muito nas soluções trazidas pela Raízen no caminho da transição energética. Entretanto, a Shell jamais demandou que a Raízen investisse em negócios que não tivessem um retorno adequado para seus acionistas.
Por isso, estamos neste momento debruçados sobre uma revisão do plano de negócios da empresa, um trabalho que nós e a Shell começamos juntos há meses.
Qual vai ser o seu principal foco à frente da Cosan?
A Cosan vai olhar para dentro e arrumar a casa. Temos um time de executivos dos mais talentosos do País. Para você ter uma ideia, nessa transição todas as posições estão sendo preenchidas com profissionais de dentro de casa.
Além disso, temos ativos líderes na maioria de seus setores, e uma visão estratégica que já gerou muito valor em diversos desses ativos. Mas o crescimento acelerado e a conjuntura adversa também trouxeram mais risco para o negócio. Agora, é hora de recalibrar as coisas.
Um foco de preocupação do mercado tem sido o endividamento da Cosan. O que é mito, e o que é realidade nisso?
Temos um patamar de endividamento acima do que, na nossa visão, a atual conjuntura permite. Nessa situação, não só temos dificuldade de reduzir substancialmente nossa alavancagem como isso também não permite que a gente faça o que fazemos de melhor: investir em negócios que gerem valor em setores que consideramos de competência da companhia.
Nossa estrutura de capital piorou nos últimos anos, dado os investimentos que fizemos e o fato de alguns não terem performado como esperado. Isso num momento em que o custo de capital para as empresas está mais alto do que se previa.
Podemos esperar transações que levem a uma desalavancagem da Cosan num futuro próximo?
Nosso objetivo é sim reduzir o endividamento do grupo, mantendo um portfólio de qualidade, ponderado pelo risco. Sempre fomos responsáveis tanto nos investimentos quanto na gestão da nossa estrutura de capital, e agora voltaremos a focar nisso.
O modelo de partnership atual está calibrado para reter e atrair as pessoas que vocês precisam?
Estamos trabalhando junto com a Claudia Falcão – a nossa nova head de gente – no redesenho da estrutura de partnership, de acordo com as necessidades atuais da companhia e com a visão de futuro do grupo. A Claudia é uma pessoa muito experiente, que trabalhou 10 anos no grupo Globo, e está fazendo uma enorme diferença aqui dentro.
Qual sua visão sobre a posição na Vale?
Estamos muito satisfeitos com a escolha do novo CEO, que é um cara competente e com grande capacidade de construir as relações que a empresa precisa. Dito isto, somos um gestor ativo do nosso portfólio e a Vale, assim como qualquer outro negócio, é constantemente objeto de revisão. Aliás, desde a compra da participação já fizemos algumas alterações relevantes na nossa posição.
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