“Batemos no pico da piora”. RCN fala em ‘pessimismo exagerado’ e mercado vira

Num sinal inequívoco ao Planalto de que basta um pouco de bom senso para melhorar as expectativas de investidores e reduzir a taxa de juros, o mercado virou depois que o presidente do BC e o Ministro da Fazenda sinalizaram na direção de um mínimo de austeridade fiscal – essas palavras malditas para setores do PT. 

O dia começou a b%$#@ de sempre, com o IPCA-15 vindo acima do previsto e empurrando para cima uma curva de juros já nas alturas. O dólar continuava zombando do real, negociando acima de R$ 5,70.  O DI para janeiro de 27 batia nos 13%, e os juros das NTN-Bs longas estavam a um triz dos 7%.

Mas no meio da tarde, veio o cavalo de pau.

O presidente do Banco Central, tendo Haddad ao lado, disse que os preços estavam “exagerados” e que “haverá medidas para endereçar” o risco fiscal. 

A virada nos juros aconteceu pouco antes das 14h. O DI janeiro 2027 contraiu 30 basis points ante o pico do dia, fechando em 12,7%, e o dólar murchou 0,5%, fechando a R$ 5,66, perto da mínima.

O Ibovespa reverteu a queda e fechou em alta de 0,65%, a primeira valorização depois de cinco dias consecutivos no vermelho.   

“Acho que os preços de mercado estão exagerados neste momento,” disse RCN.

Ao falar sobre o salto nos prêmios de risco, tanto no juro longo como na inflação implícita na curva, o presidente do BC disse que “acreditamos que haverá anúncios de medidas para endereçar, ao menos de modo parcial, a reação dos mercados e a situação fiscal”.

Já Haddad disse que o arcabouço fiscal não precisa ser reformulado, mas “reforçado” para que “seus parâmetros sejam críveis no médio e no longo prazo.”

Gestores ouvidos pelo Brazil Journal disseram que a virada no mercado teve início antes das declarações, com investidores desmontando posições depois de haver circulado a notícia de que o Governo vai de fato apresentar um plano de cortes de gastos ao redor de R$ 40 bi logo depois das eleições municipais de domingo.

Para o estrategista-chefe da Warren, Sérgio Goldenstein, a precificação na curva estava de fato exagerada. “Está ainda com bastante gordura, mesmo com a queda ocorrida hoje. Ainda tem muito para devolver.”

A “devolução”, contudo, depende de o Governo entregar de fato um plano crível de contenção de gastos.

“Ajudaria não apenas na redução dos prêmios de risco, mas também na política monetária,” comentou. “O fiscal, além do efeito nas expectativas e impacto no risco, atua também no câmbio e na demanda agregada.”

O economista-chefe da Ativa, Étore Sanchez, afirmou que um pacote “minimamente amarrado” e que não exija muito do Congresso neste momento poderá aliviar a pressão nos prêmios.

“Sinto que batemos no pico da piora,” disse ele. “O fundamento não vai melhorar de maneira significativa, mas talvez seja o início de um bom momento.”

Para Sanchez, a indicação de bons nomes para as três diretorias do Banco Central que ficarão vagas em breve é outro fator que poderá ajudar na contenção do pessimismo.

Ficamos assim: o mercado está tão sorumbático que qualquer acerto do Governo – ou esperança de acerto – já melhora muito as coisas.

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