Lerian quer criar o primeiro core bancário de código aberto do mundo

Uma startup recém-criada pelo co-fundador da Dock, Fred Amaral, acaba de levantar R$ 18 milhões para uma meta ambiciosa: criar a primeira plataforma de core banking de código aberto do mundo. 

A rodada na Lerian foi liderada pela Maya Capital – a gestora de venture capital de Mônica Saggioro e Lara Lemann – e teve a participação da Quartz, Supera Capital, Norte Ventures e Crivo Ventures. 

Essa é a primeira rodada da startup, fundada em janeiro deste ano com capital próprio de Fred, e uma das maiores rodadas seed do ano no Brasil.

No mercado bancário existem três perfis de empresas: os bancos incumbentes, que desenvolveram internamente seus sistemas de core bancário; os bancos novos, mas grandes — como o Nubank e o Inter — que também optaram por desenvolver seus sistemas com um time interno; e os bancos médios e pequenos, que usam plataformas de terceiros.

A Lerian quer atender essa última parcela, que hoje é atendida por dois modelos de plataformas de core banking

“Existem duas grandes fases no desenvolvimento do core banking no mundo. A primeira, de 1970 a 2010, foi a construção de core bancários empacotados, com plataformas fechadas que não permitiam nenhuma customização,” Fred disse ao Brazil Journal.

“A segunda, a partir de 2010, foi marcada pela segregação dos chamados ledgers, que são os bancos de dados que salvam as transações de crédito, débito e toda a parte de saldos e limites, que passaram a ser vendidos de forma separada.”

O problema desse segundo modelo – usado pela maioria dos bancos médios – é que o próprio banco precisa fazer todas as integrações, como a integração para o processamento de cartões, Pix e boleto. 

A Lerian está se propondo a criar um terceiro modelo de core banking, oferecendo uma plataforma customizável e modular. Ela oferece 32 módulos que podem ser contratados separadamente, além de todas as integrações necessárias para colocar um banco de pé. 

Além disso, a Lerian está se propondo a criar um sistema de código aberto, algo inédito no mundo bancário, segundo o fundador. 

Fred disse que optou pelo open source porque acredita que os modelos de distribuição que existem hoje (o licenciamento, a subscrição e o as a service) não atendem as demandas do setor. 

Para ele, há dois indícios que comprovam isso. 

O primeiro é o fato dos grandes players estarem todos indo pelo caminho de construir internamente seus core bancários. “O segundo é que percebemos que esses players estão indo por esse caminho por uma necessidade de customização muito grande, para trazer uma vantagem competitiva, e pelo preço,” disse o fundador.

Nas plataformas de core banking tradicionais, o modelo de cobrança é pelo número de contas abertas e de transações feitas por cada uma dessas contas. 

“O problema disso é que os bancos hoje não conseguem cobrar uma mensalidade do cliente, seja pela concorrência ou porque o regulador não permite cobrar por determinadas transações, como o Pix,” disse o fundador. “Então há um descasamento entre a receita dessas empresas e esse modelo de cobrança.”

No modelo open source, a Lerian está deixando de cobrar pelo produto e cobrando pelos serviços que coloca em cima do produto. “Onde ganhamos dinheiro é com o hosting desse software, que os clientes podem optar por fazer com a gente, e com funcionalidades que criamos e que os clientes podem contratar. Também temos uma fonte de receita não recorrente de implementação e consultoria,” disse Fred. 

As funcionalidades incluem integrações para processamento de cartão, para transacionar Pix e emitir e pagar boletos, por exemplo. “São integrações que os clientes podem fazer sozinhos, mas que levaria muito mais tempo,” disse ele. 

A Lerian já tem alguns poucos clientes na parte de consultoria, e está buscando seus primeiros clientes da plataforma.

A estratégia para crescer será entrar nas empresas pelo time de desenvolvimento. Parte importante dos recursos da rodada vai ser usada para criar um time que Fred chama de developers advocacy – uma comunidade de desenvolvedores em torno da plataforma e das soluções da Lerian. 

“Queremos desenvolver workshops para ensinar e treinar os desenvolvedores para esse tipo de programação financeira usando nossos módulos e soluções.”

Fred disse que a expectativa da Lerian é rodar até abril com uma receita muito baixa, até conseguir construir esse ecossistema em torno da plataforma. A rodada de hoje garante dois anos e meio de runway para a startup, considerando a queima de caixa atual.

O posto Lerian quer criar o primeiro core bancário de código aberto do mundo apareceu primeiro em Brazil Journal.