A Sabesp acaba de levantar R$ 1,06 bilhão com a IFC — na primeira captação da companhia de saneamento desde sua privatização em julho, e em meio a um ciclo de capex de mais de R$ 60 bilhões que ela terá que executar nos próximos cinco anos.
O empréstimo tem prazo de 10 anos e é um “A-Loan”, um tipo de crédito em que o braço de fomento do Banco Mundial usa apenas recursos próprios.
A taxa não foi divulgada, mas ficou abaixo do custo médio da dívida da Sabesp — dado o momento de mercado favorável, com a compressão dos spreads — e em linha com as taxas praticadas hoje no mercado.
Como parte do acordo, a Sabesp terá uma redução dessa taxa caso cumpra suas metas de universalização de água e esgoto.
O CFO Daniel Szlak disse ao Brazil Journal que os recursos vão ser usados para financiar uma parte do Integra Tietê — um dos principais projetos da Sabesp hoje, com um investimento total de mais de R$ 10 bilhões.
Os aportes do Integra Tietê estão sendo divididos em dois grupos de projetos.
O primeiro — onde os recursos da captação de hoje serão alocados — são as obras lineares, com a construção de toda a tubulação necessária para viabilizar a coleta e o tratamento de esgoto das regiões no entorno do rio Tietê, como os bairros de Jaraguá, Perus e Guarulhos.
O segundo é o aumento da capacidade das três Estações de Tratamento de Efluentes (ETEs) da Sabesp.
Segundo o CFO, cada um desses dois grupos responde por cerca de metade do capex total do Integra Tietê.
Lançado em março de 2023, o projeto está sendo feito em parceria com o Governo do Estado. A estimativa é que o crédito obtido junto à IFC beneficie mais de 360 mil residências que hoje não têm esgoto tratado e jogam dejetos direto no rio.
A captação faz parte de um esforço colossal que a Sabesp terá que fazer nos próximos anos para cumprir seu capex.
A partir do ano que vem, a companhia — que vinha investindo uma média de R$ 3-4 bilhões por ano nos últimos anos — aumentará o ritmo para cerca de R$ 12 bilhões/ano até 2029.
A estimativa do mercado é que a Sabesp terá que captar de R$ 5 bilhões a R$ 8 bilhões em dívidas por ano nesse período, com o restante sendo financiado com a geração de caixa.
Daniel — que entrou na empresa em outubro, depois de anos como CFO da Kraft Heinz na América Latina e no Canadá — disse que a Sabesp vai acessar diversos bolsos para levantar esses recursos, mas que a IFC deve ser um parceiro importante, como tem sido nos últimos anos.
Hoje os empréstimos multilaterais respondem por mais da metade da dívida da Sabesp, com o restante dividido em debêntures, dívida bancária e no programa ‘Saneamento para Todos’, que usa recursos do FGTS.
Segundo Szlak, a Sabesp pode fazer outras captações ainda este ano, dependendo das condições de mercado.
A companhia tem uma dívida líquida de R$ 23 bilhões, com uma alavancagem de 1,8x EBITDA.
Nos modelos do sellside, a projeção é que a alavancagem subirá para 2,5x e 3x EBITDA com o ciclo de forte investimento que a empresa terá que executar.
Szlak explica que, apesar do capex cavalar, a alavancagem não deve subir tanto porque o novo modelo de contrato da Sabesp, pós-privatização, prevê que os reajustes tarifários aconteçam anualmente, e não mais a cada quatro anos.
“Isso permite que a alavancagem caia rápido, porque você já tem o reajuste no final do ano que vai compensar aqueles investimentos que você fez,” disse o CFO.
A ação da Sabesp opera perto de sua máxima histórica, com a companhia valendo R$ 65 bilhões na B3.
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