YVY quer fundo de infra de R$ 500 milhões, com foco em project finance

A YVY — a gestora focada na transição climática fundada por Gustavo Montezano e o ex-Ministro Paulo Guedes — iniciou a captação de um fundo de crédito para o setor de infraestrutura. 

O fundo, de capital perpétuo, será listado na Bolsa e vai negociar com o ticker YVYC11.

O roadshow junto a investidores locais e internacionais começou ontem, e a expectativa é que o bookbuilding aconteça em 20 de dezembro.

A oferta está sendo coordenada pelo Itaú BBA (líder) e pela XP Investimentos. 

O objetivo é levantar entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões para financiar projetos de infraestrutura em setores como saneamento, transporte, mobilidade, energia e logística. O retorno-alvo é um spread de 1% a 2% sobre a NTN-B.

Montezano disse ao Brazil Journal que a decisão de entrar em infraestrutura tem a ver com as mudanças pelas quais este mercado passou nos últimos anos — parte delas lideradas pelo próprio Montezano quando foi CEO do BNDES, e por Guedes, quando foi Ministro da Fazenda. 

“A partir de 2016, migramos para um modelo de descentralização da infraestrutura brasileira, com o aumento da concorrência e um pipeline maior de projetos,” disse ele. “Houve uma série de medidas de arcabouço regulatório que tornaram a legislação para operar no setor mais segura, reduzindo a necessidade da interação mais próxima do operador privado com o Poder Público.”

Segundo ele, com a melhora da regulação e das políticas públicas, começou a haver uma maior sofisticação nos modelos de financiamento. 

“O Brasil tinha ficado para trás na parte de financiamento por não desenvolver o project finance, que ancora o risco do crédito no projeto em vez do risco corporativo da empresa. Isso é algo primordial para conseguirmos chegar nos R$ 400 bi por ano de investimento em infraestrutura,” disse ele.

O novo fundo da YVY quer suprir justamente essa lacuna, focando seus empréstimos no modelo de project finance, e sempre numa estrutura sindicalizada (investimento junto com outros players). 

Dentre os FI-Infra listados, o YVYC11 será um dos pioneiros a focar neste modelo. A maioria dos fundos de infraestrutura listados hoje investe essencialmente em debêntures. 

“Vamos fazer um pouco disso também de forma oportunística, mas o coração do fundo vai ser o financiamento direto aos projetos nessa estrutura sindicalizada,” disse Montezano, acrescentando que esse tipo de empréstimo oferece um yield maior, apesar da complexidade também ser maior.

“Mas a beleza do financiamento de projeto é que ele é mais complexo no começo — pelos riscos da obra, dos licenciamentos e da operação — mas quando ele entra em ‘completion’ ele tem uma compressão de risco muito grande.”

Com a primeira captação, o objetivo do YVYC11 é fazer de 10 a 20 investimentos. No prospecto da oferta, a gestora disse que já tem um pipeline de R$ 2,2 bilhões em potenciais operações. 

Este será o segundo veículo da YVY desde sua fundação em julho do ano passado. De lá para cá, a gestora vinha se estruturando e afinando sua tese, e só levantou seu primeiro fundo há poucos meses.

A primeira captação foi no formato de club deal, para um investimento de private equity. A YVY captou R$ 300 milhões para investir na Solinftec, uma agtech que tem usado dados e IA para aumentar a produtividade e reduzir as emissões no campo.

Uma das tecnologias da startup é o robô Solix, que sobrevoa as plantações e escaneia o campo com sensores. Com base nesse scanner, a startup consegue dosar o uso ideal de agrotóxico, reduzindo em mais de 80% o uso desse tipo de substância danosa para o meio ambiente. 

A Solinftec já tem operações em diversos países da América Latina e entrou recentemente nos Estados Unidos. A fintech tem uma receita de cerca de US$ 60 milhões e um EBITDA de US$ 15 milhões. 

Montezano disse que o objetivo da YVY é se tornar uma gestora multiprodutos — mas que a ideia é fazer isso sem pressa, para não abrir mão da qualidade. 

Segundo ele, o próximo produto da YVY provavelmente também será em infraestrutura, mas com foco em equity.

“Quando entendemos uma cadeia produtiva e fazemos as leituras regulatórias, conseguimos fazer várias teses nessa mesma cadeia, com produtos diferentes,” disse Montezano.

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