Alberto Leite vai investir R$ 1,8 bilhão em data centers

O Grupo FS, do empresário Alberto Leite, vai investir R$ 1,8 bilhão na construção de três data centers no Brasil — um negócio transformacional para a companhia de cibersegurança que pode quase dobrar seu top line.

O investimento será feito ao longo de três anos e dividido em três fases, com a primeira começando agora. 

Nessa etapa, o Grupo FS vai investir 30% do montante total para a construção de um primeiro data center no Ceará, na retroárea da Praia do Futuro e com capacidade de 30 megawatts. O investimento será feito apenas com o caixa da empresa e recursos do family office de Leite, o fundador da FS. 

A localização é estratégica: o data center vai ficar próximo a um local de fácil acesso a cabos submarinos que conectam o Brasil a diversos países, o que torna a latência do sistema mais eficiente. Além disso, a região já abriga diversos outros data centers e tem atraído players como a V.tal, do BTG, que está construindo o Mega Lobster, de 20 MW.  

“Tem muitos clientes que já tem um data center lá, mas que querem um segundo no mesmo lugar para fazer uma redundância, mas com outro provedor. Porque se um falhar, ele tem outro,” Leite disse ao Brazil Journal.

“Além disso, o Ceará tem muita oferta de energia renovável a preços competitivos, o que é essencial para esse tipo de operação.”

Na segunda fase, que vai iniciar um ano depois da primeira, o Grupo FS vai investir mais 30% do total, levantando recursos com dívida e um aporte de equity no projeto. 

Os recursos vão financiar a construção de um data center em São Paulo, também com capacidade de 30 MW. 

Na terceira etapa do projeto, que começará um ano depois da segunda, o grupo vai investir os 40% restantes numa estrutura majoritariamente alavancada, para erguer um data center no Paraná, com uma capacidade menor, de cerca de 10 MW, e focado, entre outras coisas, na mineração de bitcoins. 

Segundo Leite, o plano é focar principalmente nos chamados data centers de ‘hyperscale’, que têm uma precisão muito alta, uma eficiência energética maior e um maior nível de segurança e conectividade — sendo usado por companhias com uma alta demanda por operações que acontecem em milésimos de segundo.

O hyperscale é usado, por exemplo, pelas companhias de streaming, que precisam que o servidor responda muito rápido às suas requisições. Outro exemplo é um ecommerce de alto tráfego, que recebe centenas de milhares de requisições de compra no mesmo segundo. 

Quando os três data centers estiverem prontos, Leite estima que a operação vai gerar uma receita anual de cerca de R$ 1 bilhão, quase dobrando o tamanho atual do Grupo FS, que deve faturar R$ 1,4 bilhão este ano com um EBITDA de R$ 400 milhões.

Segundo Leite, os três data centers estão sendo construídos num modelo de ‘built to suit.’ A companhia já assinou memorandos de entendimento com diversas companhias que devem fechar contratos de 20 anos para usar os data centers quando ficarem prontos. 

Este é o maior capex da história do Grupo FS, e marca sua entrada num novo mercado com características distintas de seu negócio atual. 

“Sempre focamos em aplicações, sistemas e em softwares construídos em cima da infraestrutura. Agora vamos nos tornar um player de infraestrutura,” disse Leite. 

O empresário disse que decidiu apostar no mercado de data centers porque a demanda por esse tipo de infraestrutura deve crescer muito nos próximos anos — com a expansão da inteligência artificial, machine learning e do 5G — e porque o Brasil está bem posicionado para capturar esse crescimento. 

“Nesse mercado, a geopolítica é importante, porque o mundo inteiro está buscando um protecionismo tecnológico,” disse ele. “Nesse sentido, o Brasil está bem posicionado porque é amigo dos americanos, europeus, asiáticos…”

Além disso, o País tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e é o quinto país no ranking de consumo de internet.

Para ele, esses fatores combinados podem fazer com que o Brasil se torne o quarto maior provedor de data centers do mundo nos próximos anos.  

Isso, é claro, se Brasília ajudar. 

“O Brasil tem todas as condições para isso, mas precisa estabilizar minimamente a situação fiscal e criar uma política de desenvolvimento de IA e de formação de engenheiros,” disse Leite. 

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