Momento é do dólar e pós-fixados – e não deve mudar tão cedo, diz o UBS

A força da economia americana – agora impulsionada pela agenda de incentivo aos investimentos do próximo Governo Trump – deve manter a tendência internacional de alta do dólar.

Enquanto isso, no Brasil o mercado continuará pedindo mais juros até que a cotação do dólar se estabilize e as expectativas de inflação parem de se distanciar da meta de 3%.

Este será o ambiente econômico no início de 2025, estima o time do UBS Global Wealth Management.

Traduzindo esse cenário para a decisão de investimentos, o UBS está sugerindo aos clientes que apliquem em renda fixa pós-fixada no Brasil e ampliem suas posições em dólar e ações dos EUA – mesmo as negociadas em real, no mercado brasileiro.

“Há grande possibilidade de o CDI em 2025 ter uma rentabilidade maior do que em 2024,” Luciano Telo, o CIO para o Brasil no UBS, disse ao Brazil Journal. “É o cenário-base.”

Com Trump, os EUA deverão ampliar ainda mais o diferencial de crescimento em relação a outros países avançados.

“A economia americana já está indo muito bem, e a agenda do Partido Republicado – que terá maioria nas duas Casas – é uma agenda de redução de impostos e desregulamentação,” disse Telo. “Os EUA serão ainda mais competitivos.”

Para Telo, poucas moedas vão conseguir ombrear com a força do dólar nos primeiros seis meses de 2025.

“Os EUA têm mais crescimento, mais produtividade, mais inovação,” afirmou. “E agora teremos as tarifas, que devem começar a ser aplicadas logo em janeiro.”

“Achamos que ainda há espaço para a Bolsa americana andar, principalmente ações ligadas a inovação e inteligência artificial,” disse Telo.

No Brasil, a falta de um ajuste fiscal convincente exigirá mais do Banco Central.

“Quando vemos a inflação implícita na curva de juros, ela está mais de 3 pontos acima do centro da meta,” disse Solange Srour, a economista-chefe do banco no Brasil. “É muito grave a questão da desancoragem.”

“Realmente, sobrou uma missão maior para o Banco Central,” disse Solange. “E já tem gente voltando a falar em mexer na meta de inflação, o que seria um absurdo nessa conjuntura.”

Mexer na meta, em sua avaliação, jogaria ainda mais para cima as expectativas de inflação.

A projeção do time do UBS é de juros elevados no Brasil durante 2025 e o início de 2026.

“Será um ambiente de câmbio desvalorizado, com inflação elevada, e em algum momento o crescimento terá que sentir esse juro mais elevado,” disse Solange.

Segundo Telo, o “lado positivo” é que o BC independente está reagindo.

“Subiu os juros, então o prêmio para ficar no Brasil está sendo corrigido,” comentou. “Mas talvez o BC não consiga entregar tudo o que o mercado está pedindo.”

Na decisão de investimento, o banco recomendou cautela com os títulos indexados ao IPCA (NTNs-B). Os rendimentos estão historicamente atrativos, acima de 7%, mas ainda deverão passar por grande volatilidade nos próximos meses, até que o mercado encontre um teto.

Por isso, o UBS disse que a alocação nesses papéis deve ser vista como uma posição de longo prazo. Mas segundo o banco, esse nível de juros reais sempre entregou rentabilidade acima do CDI em janelas superiores a quatro anos.

Em um relatório para os clientes, o time do UBS destacou que os rendimentos reais dos títulos de 10 anos atingiram um pico de 7,8% na crise de 2015. Naquele período, os juros dos EUA estavam em 0,5% – abaixo, portanto, do atual patamar de juros reais de 2%.

Para alcançar o diferencial registrado em 2015 os juros reais teriam que ir a 9,3% no Brasil – um patamar “sempre precedentes” na história recente.

A resolução de um choque dessa magnitude, destacaram os executivos do banco, depende de um compromisso fiscal “mais ambicioso” – e, enquanto isso não ocorre, o BC ficará sobrecarregado e será testado pelo mercado.

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