As raças híbridas estão em alta. O que você precisa saber 

O ator Mark Wahlberg é fã de cachorros. Em sua casa, vivem Champ, Lola, Jojo e Penny. Todos têm contas no Instagram e apresentam o sobrenome do tutor em seus perfis.

Champ é um lulu da pomerânia. Lola, uma boston terrier. Jojo é um pomsky, assim como Penny, que chegou à família por último.

O nome pomsky pode soar como novidade para muita gente, mas ele vem conquistando popularidade. Quem vê um deles dificilmente resiste à beleza desse cachorro, que é uma raça híbrida – ou seja, cães resultantes do cruzamento planejado de duas raças puras. O pomsky, no caso, nasceu da mistura de husky com lulu da pomerânia. 

No Brasil, a atriz Marina Ruy Barbosa tem como um de seus companheiros peludos o pomsky Sig. Uma das integrantes da família de Angélica e Luciano Huck é Gringa, uma goldendoodle (também com perfil no Instagram), uma raça originada do cruzamento de golden retriever com poodle.

Em inglês, eles são chamados “designer dogs” porque a mistura das raças é determinada em função de aspectos físicos e comportamentais apreciados em cada uma delas. Foi o que ocorreu com o labradoodle –  mix de labrador e poodle – criada em 1989 por um australiano, Wally Conron, que trabalhava na associação de cães-guias do país.

O animal híbrido surgiu porque ele queria ajudar uma mulher cega cujo marido tinha alergia a pelos. Conron tinha tentado treinar poodles, que têm pelagem antialérgica. Não teve sucesso. 

Então, fez o cruzamento de um labrador, normalmente treinado para ser cão-guia, com um poodle. Mas se arrependeu depois. Entendeu que tinha aberto uma caixa de Pandora para pessoas antiéticas e gananciosas que fariam qualquer cruzamento para lucrar com filhotes “híbridos”, sem se preocuparem com eventuais problemas hereditários resultantes da mistura. 

Pré-disposição a doenças

A saúde é um tema fundamental. A médica veterinária Renata Basile Medina atende raças como pomsky, goldendoodle e bernedoodle (bernese com poodle). Segundo ela, quando se trata de raças híbridas, o foco normalmente está no comportamento e na estética. “Não se fala de saúde”. A falta de atenção a esse respeito por parte de criadores e mesmo de tutores dificulta o trabalho dos veterinários.

“Para cada raça, sabemos de pré-disposições genéticas. Um poodle, por exemplo, costuma ter mais problemas endócrinos,” disse a médica. Nesses cães, portanto, o monitoramento pode começar cedo. Se há um cruzamento com outra raça, o quadro muda. De acordo com Renata, não dá para monitorar direito as pré-disposições de cada uma das raças selecionadas, principalmente se forem para doenças neurológicas.

Por um raciocínio simples, o cruzamento de dois cães diferentes poderia implicar na diminuição da ocorrência de uma doença comum em uma das raças. Mas isso não é garantido: híbridos podem herdar pré-disposições das duas raças e desenvolver outros problemas.

A ausência de um monitoramento genético adequado, portanto, dificulta o diagnóstico e tratamento de males. 

Para Renata, é essencial que as pessoas interessadas nos híbridos busquem informações sobre o criador e descubram de onde vieram os cães. Se os filhotes ou os pais desses cachorros são de uma região onde a raça está mais estabelecida, melhor. É mais provável que a saúde e as heranças genéticas tenham sido monitoradas. 

Desafios para criadores e tutores

A criação de raças híbridas envolve desafios e preocupações éticas. Exige equilíbrio entre atender ao desejo de potenciais tutores e garantir o bem-estar animal. Por outro lado, há especialistas e ativistas que criticam a manipulação de raças para desenvolver cães que atendam a preferências humanas. E há quem condene a oferta de novas raças quando temos uma imensa população de animais em abrigos esperando por uma família.

É inegável, porém, que esses cachorros estão conquistando corações. Por isso, a recomendação para quem busca um cão de raça híbrida é verificar práticas responsáveis na criação, além de estar atento às questões de saúde.

Depois de ter sido arrebatado pela raça e ter enchido sua casa com esses cães e outros animais híbridos, o empresário mineiro Gabriel Belli decidiu abrir uma startup focada nesses pets, a The Dog Tailor.

Sua startup não é um canil; é uma “fazenda” que trata o cão como estrela, e não como “linha de fábrica,” diz ele. Vivem lá 22 fêmeas e 4 machos. As raças são pomsky, goldendoodle, cavapoo (cavalier com poodle toy ou mini), maltipoo (maltês e poodle toy) e mini golden (golden com cocker spaniel americano ou com cavalier). A estrutura tem veterinário-chefe, dois estagiários, dois cuidadores e um monitor pet que promove atividades interativas com os animais. 

Belli recebe uma enxurrada de perguntas de interessados nos pets. A questão central é se existem problemas resultantes da mistura de raças e seus padrões genéticos. “É um medo que muitos têm,” diz. 

O criador explica que, tirando os filhotes que nasceram aqui, só conta com animais que vieram dos EUA, onde é normal fazer testes de DNA para avaliação de riscos. Em sua startup, ele manteve a prática. “Todo criador sério se preocupa com isso.”

A história de Belli com as raças híbridas começou quando seus filhos pediram um cachorro. Ele queria um “cão diferente” e fez muitas pesquisas na web até encontrar o pomsky.

Viajou para Utah, nos Estados Unidos, porque na região há muitos criadores especializados nos híbridos, alguns com animais já na quarta geração. Foi com um deles, em 2022, que conheceu um filhote de pomsky, Luna. Foi amor à primeira vista. Ela hoje o acompanha por todos os lados.

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