A maior empresa brasileira de organização de pesquisas clínicas acaba de levantar sua primeira rodada de capital, abastecendo o caixa para surfar o crescimento de seu mercado com a aprovação de uma lei que moderniza as regras do setor.
A Azidus levantou R$ 12 milhões com a GreenRock, a gestora de venture capital que nasceu do family office dos fundadores do laboratório Salomão Zoppi.
A Azidu, que deve faturar mais de R$ 40 milhões este ano, não é exatamente uma startup. Ela foi fundada em 1999 e atende clientes como a AstraZeneca, GSK e o Instituto Butantan.
A fundadora Luciana Bortolassi Ferrara era até agora a única acionista da companhia, que nunca havia levantado recursos com terceiros.
“O investimento da GreenRock vai ajudar onde somos deficitários, que é na governança e na profissionalização do negócio,” a fundadora disse ao Brazil Journal.
Segundo ela, os recursos vão financiar a expansão da empresa em meio às mudanças regulatórias impostas pela Lei da Pesquisa Clínica.
Depois de oito anos parado no Congresso, o PL 14.874/2024 foi finalmente aprovado, e a lei foi regulamentada pela Anvisa.
Na prática, a lei dará maior celeridade aos processos de pesquisa clínica, que hoje levam em média um ano e meio para receber a aprovação da Anvisa apenas para o início dos estudos.
A nova lei estipula que a Anvisa terá no máximo 90 dias para responder os pedidos de início de novos estudos e simplifica o processo das chamadas aprovações éticas, que antes tinham que passar por duas instâncias.
Agora, essas aprovações precisarão ser feitas apenas nos comitês locais, e não precisam mais passar pela instância nacional. “A Instância Nacional de Ética e Pesquisa vai funcionar só como um órgão de supervisão do mercado, o que vai trazer celeridade e equidade com os outros países,” disse Luciana.
Segundo ela, antes dessa lei o Brasil não tinha nenhuma competitividade, já que em estudos multicêntricos (com outros países envolvidos), quando o estudo ia começar no Brasil, ele já tinha encerrado na maioria dos outros países.
Luciana disse que o Brasil tem todas as características ideais para pesquisas clínicas — mas que isso até agora não era aproveitado graças à burocracia e a uma regulação ruim.
“Somos um país continental, de diversidade étnica, muito populoso e com uma população de baixa renda. Isso nos torna um celeiro fértil para várias doenças, inclusive as raras. Com a nova lei, os olhos das indústrias farmacêuticas mundiais vão se voltar para nós.”
Hoje o Brasil faz em torno de 300 a 320 estudos clínicos por ano, posicionando-se como o vigésimo país que mais faz esse tipo de pesquisa. A estimativa de Luciana é que esse número suba para 800 a 870 estudos em 2026, com o Brasil subindo para a décima posição do ranking.
A Azidus opera no mercado conhecido globalmente como Clinical Research Organization (CRO), ajudando as grandes farmacêuticas na elaboração e execução de pesquisas clínicas para novos medicamentos.
“Atuamos junto com eles em todas as etapas: a concepção do que vai ser testado, o desenho do protocolo que vai ser usado, a redação científica, as aprovações na Anvisa e a qualificação dos locais onde os estudos vão ser conduzidos,” disse Luciana. “Também monitoramos se os dados que estão sendo capturados estão dentro do que estava previsto.”
Por fim, a Azidus elabora o relatório com os resultados e o submete à agência reguladora para obter a aprovação dos medicamentos.
Mais recentemente, a companhia decidiu verticalizar sua operação e abriu centros de estudo clínico, passando a executar as pesquisas propriamente ditas.
“Tendo nossos próprios centros podemos controlar melhor os processos e dar mais celeridade,” disse ela. “Além disso, podemos atender indústrias que não contratam CROs mas que precisam de centros de estudos.”
Segundo ela, praticamente todas as grandes indústrias globais contratam CROs — já que a realização do estudo por um terceiro elimina os conflitos de interesse e tende a fazer com que a pesquisa tenha uma maior aceitação. (Players menores muitas vezes fazem esse processo com equipes internas.)
A Azidus compete com players globais, incluindo gigantes como as americanas IQVIA, PPD e ICON, que têm operação no Brasil. Há ainda players nacionais, mas de menor porte.
Além do preço menor, o maior diferencial da Azidus é a agilidade e proximidade com os clientes, disse Luciana.
“As grandes companhias, por ter uma estrutura muito grande, acabam sendo mais compartimentadas e burocráticas, o que torna o processo decisório e de resolução de problemas mais lento,” disse ela.
Com os recursos da rodada, a Azidus pretende abrir mais dois centros de estudo, indo de 3 para 5 centros, e avalia fazer M&As de players menores, consolidando o mercado.
O posto As pesquisas clínicas estão à beira de uma inflexão. A Azidus quer surfar a onda apareceu primeiro em Brazil Journal.