Depois de visitar quase todas as regiões da Itália nos últimos 30 anos, finalmente chegou o momento de explorar a fascinante ilha da Sicília, uma das joias não só da Itália, mas do mundo.
De norte a sul, de leste a oeste, a Sicília é deslumbrante. Seus quase 5 milhões de habitantes são italianos, claro, mas antes de tudo, são orgulhosamente sicilianos. Um povo vibrante, acolhedor, ainda mais efusivo que os italianos do continente.
Palermo encanta com sua catedral imponente, mercados cheios de vida e uma gastronomia irresistível; Agrigento impressiona com o Vale dos Templos, o maior conjunto de arquitetura grega fora da Grécia; e Taormina, encravada num penhasco com vista para o Mar Jônico e o vulcão Etna, é um verdadeiro pedaço do paraíso, com restaurantes inesquecíveis, gelaterias entre as melhores do mundo e um teatro Grego do século III a.C., destino imperdível na Itália.
Poderíamos seguir descrevendo cidades como Cefalù, Messina, Noto, Siracusa e muitas outras. Mas como esta coluna é dedicada ao vinho, vamos ao que interessa: os vinhos da Etna.
Sim, a Etna, no feminino, como dizem os sicilianos, especialmente os de Catânia e arredores, que a chamam de A Muntagna ou Mamma Etna – uma figura quase mitológica, feminina por essência, símbolo de fertilidade, abundância e proteção. A forma como se referem a ela faz parte de um rico universo cultural e linguístico que torna a Sicília ainda mais única.
E é ao redor dessa montanha sagrada que floresce uma das vitiviniculturas mais fascinantes da Itália, e que vive uma fase de ouro.
O solo vulcânico e arenoso, aliado à altitude e ao clima, cria um terroir excepcional para uvas autóctones, ou seja, variedades nativas de uma determinada região, que evoluíram em harmonia com o ambiente local ao longo dos séculos.
No caso da Etna, destacam-se a uva tinta Nerello Mascalese e a branca Carricante. Os vinhos brancos são minerais, frescos e frutados, com muito estilo. Já os tintos, geralmente de coloração rubi média (alguns bem claros), oferecem uma explosão de frutas vermelhas com elegância e personalidade, e são, sem exagero, alguns dos tintos mais refinados da Itália.
Nos arredores da Etna, visitei duas propriedades que produzem os melhores vinhos vulcânicos que provei até hoje: a Azienda Agricola Benanti, ao sudeste da Etna, e a Tenuta delle Terre Nere, ao norte, nas imediações de Randazzo, uma área onde há grande concentração de produtores.
O potencial da região é tão evidente que grandes nomes do vinho siciliano, como Planeta e Tasca d’Almerita, vêm investindo fortemente por ali. A Tasca d’Almerita, um dos mais importantes produtores da ilha, lançou recentemente seu projeto Tascante, que já produz vinhos excepcionais tanto de Nerello Mascalese quanto de Carricante.
De fora da ilha, nomes de peso também apostam na Etna, como o genial Angelo Gaja, um dos maiores nomes do Piemonte e da Toscana, que vem se destacando com seu projeto Idda, também em Randazzo, feito em parceria com o produtor local Alberto Graci.
Não à toa, os vinhos da Etna estão conquistando cada vez mais reconhecimento internacional, e com toda justiça.
Quem aprecia bons Borgonhas certamente vai se encantar com esses rótulos sicilianos, que figuram entre os mais elegantes da Itália.
Três grandes vinhos da Etna disponíveis no Brasil:
-Idda Bianco 2021 (Carricante 100%)
-Tasca D’Almerita Tascante Ghiaia Nera Etna Rosso 2021 (Nerello Mascalese 100%)
-Tenuta Delle Terre Nere Etna Rosso San Lorenzo 2019 (Nerello Mascalese 100%)
Salute!
Luiz Gastão Bolonhez é especialista em vinhos. Compartilha suas experiências no Instagram @luizgastaobolonhez e é curador de vinhos nos leilões da Blombô.
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