NOVA YORK – Mesmo após ver sua ação quadruplicar no último ano e meio, o CEO da Aura Minerals, Rodrigo Barbosa, ainda percebia relutância de grandes investidores com a mineradora de ouro e cobre.
“Os grandes fundos internacionais não investem em papéis com menos de US$ 20 milhões negociados por dia,” Barbosa disse ao Brazil Journal. “A gente ouvia isso há dois anos: ‘Gostamos da história, mas com essa liquidez não dá…’”
Com a listagem da empresa hoje aqui na Nasdaq, a história pode mudar. A empresa levantou cerca de US$ 200 milhões numa oferta precificada ontem à noite.
O papel saiu a um desconto de quase 6% em relação ao preço de tela na Bolsa de Toronto. Segundo o CEO, isso aconteceu para acomodar um grande investidor americano de longo prazo.
“Ainda assim, conseguimos um prêmio de cerca de 30% em relação ao patamar que estávamos no início do processo de IPO,” disse Barbosa.
Mesmo com a escalada do papel nos últimos meses, a empresa ainda negocia a cerca de 0,8x NAV, enquanto a média dos concorrentes listados negociam acima de 1x, e alguns a 1,3x.
A ação – que agora negocia sob o ticker AUGO – estreou na bolsa americana com uma baixa de 7,7%. A empresa é avaliada em US$ 1,8 bilhão.
Com os recursos, Barbosa vai acelerar investimentos nos ativos já em operação. Segundo ele, a empresa pode dobrar de tamanho só com o desenvolvimento do portfólio atual.
A Aura também continua buscando oportunidades de M&A, mas o CEO não vê novos anúncios no curto prazo. Em junho, a empresa pagou US$ 76 milhões pela mina de ouro Serra Grande, que pertencia à AngloGold Ashanti.
“Diante das consolidações e fusões que estão acontecendo no setor, acreditamos que haverá reciclagem de ativos, como foi o caso da AngloGold,” disse.
Barbosa conversou com o Brazil Journal antes de tocar o sino que marca o começo do pregão.
Por que é tão importante para vocês estar na Nasdaq?
A Aura é o resultado de um turnaround que começou no fim de 2016. Redesenhamos a companhia e, em 2020, fizemos o IPO no Brasil. Desde então, entregamos o que prometemos: aumentamos produção, fizemos três aquisições, implantamos projetos e nos tornamos um dos maiores pagadores de dividendos do setor no mundo. Mas a liquidez ainda era um entrave.
Os grandes fundos internacionais não investem em papéis com menos de US$ 15 milhões negociados por dia. A gente ouvia isso há dois anos: “Gostamos da história, mas com essa liquidez, não dá.”
Com o IPO isso deve mudar?
Chegamos a um valor de mercado perto de US$ 1,5 bilhão, tivemos vento favorável no preço do ouro e, com o histórico de execução, atraímos os fundos que queríamos. A demanda foi quatro vezes maior que a oferta. Conseguimos colocar nomes relevantes no book — incluindo um investidor americano que colocou US$ 40 milhões.
Mas parte do mercado esperava uma captação que poderia chegar a quase US$ 300 milhões, e o IPO ainda saiu com um desconto de quase 6%. O que aconteceu?
Nosso target sempre foi US$ 200 milhões, o suficiente para chegar a US$ 15 milhões por dia de liquidez, segundo o cálculo dos bancos. Tivemos um desconto pontual para acomodar um investidor americano estratégico que tem uma visão de longo prazo.
Ainda assim, vejo o IPO como um sucesso: tivemos um prêmio de cerca de 30% em relação ao patamar que estávamos no início do processo de IPO. Desde então, as nossas ações subiram mais que a média no setor no período.
O foco agora é na execução dos projetos ou em mais aquisições?
Temos três avenidas de crescimento. A primeira é entregar os projetos que já estão no pipeline – Borborema entra em operação ainda neste trimestre. A segunda é a exploração: algumas minas adquiridas foram subinvestidas no passado e estamos encontrando continuidade nas terras.
A terceira é em M&A: estamos sempre olhando bons ativos, principalmente nas Américas. Mas apenas com os projetos que temos dentro de casa, já podemos dobrar de tamanho nos próximos quatro anos
Vocês conseguem explorar melhor os ativos do que a média do setor?
Sim. Somos muito disciplinados na gestão. Escolhemos projetos mais simples e menores, mas com maior retorno. Nosso custo de produção está em torno de US$ 1.350 por onça, abaixo da média da indústria, que subiu para US$ 1.600 por onça nos últimos anos.
Mas é possível repetir esses custos em novos ativos?
Queremos fazer isso na mina da AngloGold, por exemplo. Ela tinha uma operação com custo de US$ 2.000 por onça, sem foco dentro do portfólio da empresa. Agora, nós vamos investir, fazer turnaround, e pretendemos ganhar de 20% a 30% de eficiência em até um ano. A nossa especialidade é de chegar a resultados excelentes em minas que são ‘apenas’ boas.
Há oportunidades de M&A no mercado hoje, ou está tudo caro com o preço do ouro no patamar atual?
Ainda vemos boas oportunidades. As juniors não captaram tanto capital, então há ativos subprecificados. Com um balanço forte e os US$ 200 milhões da oferta, vamos conseguir aproveitar.
E o cobre? Vocês mantêm o foco ou o ouro domina a agenda?
O cobre sempre representou cerca de 30% do nosso faturamento, mas estamos crescendo mais no ouro. O projeto de cobre em Carajás ainda precisa de muita pesquisa, mas seguimos monitorando. Cobre é um mercado mais consolidado e caro.
Como está o pipeline de projetos?
Temos de 5 a 10 projetos no radar – nem todos disponíveis. Mas diante das consolidações e fusões que estão acontecendo no setor, acreditamos que haverá reciclagem de ativos, como o da AngloGold. Estamos posicionados para capturar essas oportunidades com nossa capacidade de turnaround.
Vocês pensam em participar de fusões maiores?
Estamos bem como estamos. Preferimos ativos onde podemos operar melhor que os donos anteriores.
Qual sua visão para o preço do ouro?
Não sou especialista em ouro, mas os dois fatores que puxaram o preço – o movimento da China para reduzir exposição ao dólar e o déficit crescente dos EUA – não devem sair de cena. Então, continuo otimista.
A política de dividendos continua ou pode mudar diante das oportunidades que o mercado de ouro tem?
Sim, mantemos a política de 20% do EBITDA menos o capex recorrente. Podemos ajustar pontualmente, mas nosso histórico é de pagar mais sempre que temos caixa excedente.
O posto Aura Minerals estreia na Nasdaq. CEO fala em dobrar de tamanho apareceu primeiro em Brazil Journal.