BEE4 ganha licenças; Bolsa para PMEs dá mais um passo adiante

A BEE4 conseguiu as licenças definitivas da CVM para operar como Balcão Organizado e Central Depositária — dando mais um passo para criar uma ‘Bolsa de Valores de acesso’ no Brasil, nos moldes da canadense TSX Ventures e da inglesa AIM.

A BEE4 já vinha operando dentro do ‘sandbox’ regulatório da CVM — um ambiente experimental com licenças temporárias — desde 2020.

Ela entrou com o pedido das licenças em novembro; a de Depositária saiu em janeiro, e a de Balcão Organizado, agora em abril.

“Com essas licenças já conseguimos operar no mercado de balcão em renda fixa e em ações, com a emissão e negociação de notas comerciais, debêntures e equity,” a CEO e cofundadora Patricia Stille disse ao Brazil Journal. “Nosso plano é primeiro criar tração nesses ativos para depois entrar em outros produtos, como derivativos e cotas de fundos.”

Fundada por Patricia e Rodrigo Fiszman, dois egressos da XP, a BEE4 é financiada basicamente pela Nuclea, a companhia controlada por 48 bancos que atua como registradora, depositária e liquidante com foco em ativos bancários, como o registro de duplicatas. 

A Nuclea — que fez uma receita de R$ 1,6 bi ano passado com um EBITDA de R$ 790 milhões — tem uma debênture conversível em ações da BEE4 e vem dando o funding para a operação até que ela atinja o breakeven, o que Patricia espera que aconteça em 2027. 

Operando dentro do ‘sandbox’, a BEE4 já fez quatro IPOs, movimentando mais de R$ 30 milhões.

As ofertas levaram à listagem da MaisMu, de snacks saudáveis; da Engravida, de reprodução assistida; da Plamev Pet, de planos de saúde para pet; e da Eletron Energia, que trabalha com projetos de eficiência energética.

Há ainda uma quinta oferta na rua: a da Roda Conveniência, que opera mini mercados autônomos no Rio e está buscando levantar R$ 8 milhões a um valuation de R$ 82 milhões. 

O foco da BEE4 são empresas de middle market que faturam entre R$ 50 milhões e R$ 500 milhões, um segmento que não tem recebido atenção da B3 nos últimos anos, segundo Patricia.  

“Identificamos esse gap e fomos atrás de criar inovações regulatórias para viabilizar o crescimento desse mercado,” disse a CEO.

Segundo ela, o mercado de acesso nunca deslanchou no Brasil — apesar da B3 ter criado o Bovespa Mais em 2005 — principalmente por questões regulatórias, já que as exigências da CVM tornam o processo complexo e caro para empresas menores. 

Para fazer uma emissão de dívida ou equity, por exemplo, a regulação atual exige: a contratação de um coordenador líder, a criação de uma área de RI com um diretor estatutário, a contratação de duas assessorias jurídicas, a auditoria do balanço dos últimos três anos, além de pagar as taxas de registro da CVM e da Bolsa. 

Essas exigências, no entanto, devem ser flexibilizadas em breve, uma mudança fundamental para a tese da BEE4.

Está na agenda da CVM a implementação este ano do chamado regime FÁCIL (Facilitação do Acesso a Capital e de Incentivo a Listagens) — que institui regras diferentes de listagem para empresas que faturam menos de R$ 500 milhões. 

Se a regulamentação for aprovada como está na consulta pública, a listagem pelo FÁCIL não vai exigir a contratação de um coordenador líder, vai demandar apenas um assessor jurídico e a apresentação do balanço auditado só do último ano. Além disso, o diretor de RI não precisará ser estatutário.

Essas simplificações já reduziriam de forma brutal o custo de listagem, viabilizando o acesso ao mercado para companhias de menor porte. 

Patricia diz que tanto a listagem no regime tradicional quanto no regime FÁCIL custam em torno de 5% a 7% do valor total da oferta. “Mas as despesas na contratação de prestadores de serviço obrigatórios são muito menores, por conta dos descontos regulatórios do novo arcabouço, que refletem em menos pré-requisitos e obrigações,” disse ela. 

Ela dá o exemplo de duas operações recentes — o IPO da Vittia na B3 em 2020 e o da Roda Conveniência na BEE4.

Enquanto a Vittia gastou R$ 8 milhões só com auditores e advogados, a Roda Conveniência gastou cerca de R$ 400 mil. 

Num primeiro momento, o foco principal da BEE4 será o mercado de renda fixa, dado o cenário macro e o nível atual dos juros.

A expectativa é começar a operar com a emissão de debêntures e a negociação no mercado secundário já em julho, quando a BEE4 espera que a implementação do FÁCIL já tenha sido feita. 

Segundo Patricia, a BEE4 conseguirá dar às empresas de médio porte acesso a muito mais capital do que elas têm hoje. 

“Hoje essas empresas podem levantar dívida com linhas de bancos, FIDCs ou debêntures privadas. No mercado público, elas vão poder acessar os fundos de renda fixa e multimercados, uma indústria de R$ 2 trilhões,” disse ela. 

A BEE4 já tem um pipeline de 30 empresas pequenas e médias interessadas em fazer emissões de dívida no mercado público. 

“E o mercado potencial é gigante. Existem 400 mil empresas hoje no Brasil e 33 mil são SAs. Mas à medida que formos fazendo mais operações, acho que vamos inspirar outras companhias a se tornarem SAs para também poder acessar o mercado público.”

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