MIRANDA, Mato Grosso do Sul – Ela pesa 100 quilos, tem manchas pelo corpo e está no topo da cadeia alimentar. É também uma money maker.
A onça-pintada da Fazenda Caiman, aqui no Pantanal, atrai turistas dispostos a pagar diárias de R$ 4 mil para vê-la de perto.
Hoje a taxa de sucesso no avistamento chega a 95% — um número que faria qualquer operador de safari africano corar de inveja. Mas nem sempre foi assim.
Há uma década, as onças evitavam a todo custo o contato com os humanos por medo de serem caçadas. A realidade mudou graças à Onçafari, uma ONG criada pelo ex-piloto de automobilismo Mario Haberfeld.
“O ecoturismo não funcionava no Brasil porque faltava um grande predador para atrair turistas, como acontece com os gorilas em Uganda,” Haberfeld disse ao Brazil Journal.
Haberfeld, cuja família vendeu a empresa de embalagens Dixie Toga por US$ 250 milhões em 2005, transformou uma intuição ousada em modelo de negócios. Sua aposta na habituação de onças — um processo que permite a observação segura dos felinos — provou que o “safari brasileiro” não era só viável, mas altamente lucrativo.
O pulo-do-felino está em acostumar as onças com a presença dos jipes, mostrando que os carros não representam ameaça.
Assim, as feras simplesmente ignoram os turistas — desde que se mantenham no interior do veículo. Alguns bichos também são monitorados, o que permite coletar dados sobre comportamento e facilita a busca.
A ideia foi apresentada a Roberto Klabin, o notório conservacionista e proprietário da Fazenda Caiman, um oásis de terras preservadas que equivale a um terço da cidade de São Paulo.
Klabin já operava uma pousada no local, mas ela servia mais para receber os amigos do que como negócio.
Hoje, a Caiman faz mais dinheiro com turismo do que com criação de gado, uma atividade que ainda persiste na fazenda. “Você precisa tratar conservação como empresa e buscar superávit para reinvestimento,” diz Haberfeld.
A estratégia não se limita ao ecoturismo: inclui a compra de propriedades vizinhas e um plano para criar corredores ecológicos.
A Fazenda Santa Sofia, com 35 mil hectares comprados pela Onçafari, exemplifica essa abordagem. A área funciona como ponte entre fragmentos de mata, garantindo a circulação dos animais e multiplicando o potencial turístico da região.
“Estamos criando ‘arcas de noé’ para proteger os animais,” explica Haberfeld.
A compra de terras é financiada por endowments — fundos que garantem recursos permanentes. Além dos Klabin, os doadores incluem a família Bracher, acionistas do Itaú.
“Faltam bons projetos e consciência sobre o tamanho do problema ambiental, não necessariamente dinheiro,” diz Haberfeld.
No Pantanal, a onça-pintada não está apenas no topo da cadeia alimentar. Está no topo da cadeia de negócios.
O posto No Pantanal, hotéis e fazendas colocam a onça no centro de negócio apareceu primeiro em Brazil Journal.