Em manifesto, empresários cobram mais coordenação na agenda verde

Incomodados com a falta de uma ação coordenada na agenda verde do País, um grupo de grandes empresários publicou hoje um manifesto em defesa de um ‘pacto econômico com a natureza.’ 

“A catástrofe humanitária no Rio Grande do Sul e o recorde de focos de incêndio no Pantanal tornam ainda mais urgente a necessidade de unirmos esforços para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas,” diz o texto. 

O documento ganhou o apoio de 53 empresários e executivos, entre eles Ana Maria Diniz, Armínio Fraga, Elie Horn, Guilherme Benchimol, Jayme Garfinkel, Marcos Molina, Pedro Passos, Pedro Wongtschowski, Rubens Menin e Rubens Ometto. 

“Não temos à mão fórmulas prontas, soluções fáceis,” afirma o manifesto. “Mas como cidadãos perplexos com o impacto socioeconômico dos eventos extremos e com o despreparo da nossa nação, manifestamos aqui nosso compromisso de buscar as saídas em conjunto com toda a sociedade.” 

O manifesto é um chamado à colaboração entre o setor público e o privado, dizendo que “não é produtivo gastar tempo apontando culpados, caçando bruxas.” 

“Precisamos dos Três Poderes alinhados – tanto no diagnóstico das oportunidades e riscos pela frente, como no compromisso em torno de um programa que faça do Brasil uma potência de soluções sustentáveis,” afirmam os signatários. “Não é justo, porém, empurrar todo o ônus para o Poder Público.” 

Candido Bracher, um dos coordenadores da iniciativa, disse ao Brazil Journal que o manifesto representa “uma manifestação e uma disposição de colaborar.” 

“Ele nasce de uma uma constatação de que o aquecimento global começa a provocar choques econômicos reais no Brasil”, afirmou Bracher, ex-CEO do Itaú, integrante do conselho de administração do banco e um defensor da agenda verde. 

De acordo com Bracher, a falta de coordenação do Governo tem atrasado a implementação de iniciativas, o que representa não apenas um custo material como também um custo de oportunidade.

“Isso leva a uma demora de o Brasil fazer uso dos seus recursos, que são inegáveis, na questão ambiental,” afirmou. “Há um custo para toda a sociedade.” 

Bracher disse que o Brasil ainda não tem formulada a sua long-term strategy para chegar à meta de ser carbono zero até 2050.  

Outra questão relevante está na falta da aprovação de um marco legal para o mercado de crédito de carbono. 

“O mercado de carbono é a principal fonte de recursos para a preservação, potencial para a preservação das nossas florestas e para a restauração de florestas,” afirmou Bracher. 

Para Horácio Lafer Piva, ex-presidente da Fiesp e chairman da Klabin, é necessário “dar sentido de urgência” para as ações de proteção ao meio ambiente.

“Podemos passar de um inferno para o céu,” disse Piva. “Passar de uma situação que hoje em dia tem penalizado os nossos biomas e tem nos colocado, como o Brasil, numa situação constrangedora em relação ao mundo, que tem dificultado, inclusive, a melhor produtividade dos agentes econômicos.” 

Segundo Bracher, o Governo vem mostrando disposição de agir, mas falta organização.  

“A agenda está dispersa em várias áreas – tem o Meio Ambiente, tem a Agricultura, tem o Itamaraty,” afirmou. “Todos precisam atuar de uma maneira coordenada. Não existe um coordenador nomeado. Então, diante da  complexidade do problema climático, medidas que parecem simples, como impedir o desmatamento ilegal, não acontencem como deveriam.” 

Os empresários esperam motivar a mobilização da sociedade em favor de uma maior coordenação do Governo. 

“Deem as regras que a gente cumpre, a gente coopera,” disse Bracher. “Queremos que isso ande, porque está custando muito para o País.” 

A seguir, a íntegra do manifesto. 

POR UM PACTO ECONÔMICO COM A NATUREZA 

A catástrofe humanitária no Rio Grande do Sul e o recorde de focos de incêndio no Pantanal tornam ainda mais urgente a necessidade de unirmos esforços para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas. 

Não temos à mão fórmulas prontas, soluções fáceis. Mas, como cidadãos perplexos com o impacto socioeconômico dos eventos extremos e com o despreparo da nossa nação, manifestamos aqui nosso compromisso de buscar as saídas em conjunto com toda a sociedade. 

Precisamos colaborar com o Executivo na estratégia de combate ao desmatamento ilegal e na recuperação de áreas degradadas. 

Precisamos contribuir com o Legislativo na criação de leis que disciplinem o licenciamento ambiental e protejam as florestas. 

Precisamos incentivar um Judiciário atuante na defesa do direito constitucional ao meio ambiente, algo em que o Brasil, aliás, foi pioneiro e referência. 

Precisamos dos Três Poderes alinhados – tanto no diagnóstico das oportunidades e riscos pela frente, como no compromisso em torno de um programa que faça do Brasil uma potência de soluções sustentáveis. 

Não é justo, porém, empurrar todo o ônus para o Poder Público. E não é produtivo gastar tempo apontando culpados, caçando bruxas. 

Todos os brasileiros temos a responsabilidade de transformar a dor em esperança e de repensar hábitos e processos. 

Entendemos que cabe à iniciativa privada acelerar a adaptação da nossa economia à nova realidade do clima. Seja porque as atuais fontes de geração de riqueza no País estão sob risco, seja porque uma mobilização de conformidade ambiental dará acesso a mais recursos e mercados. 

Um pacto econômico com a natureza impulsionará a nação no cenário global. Temos vantagens competitivas que nos são exclusivas e de que o mundo necessita. 

Podemos gerar renda e empregos e, ao mesmo tempo, preservar as áreas verdes e transformar espaços urbanos. 

Em 2025 o Brasil será anfitrião da COP, fórum global que discute o enfrentamento da crise climática. É fundamental que o País construa com profundidade e velocidade as diretrizes e metas de um plano nacional de descarbonização para ser levado ao evento. 

O empresariado e os Três Poderes precisam se unir o quanto antes para encarar esse desafio, em uma coalizão em defesa do nosso meio ambiente, da nossa economia e da prosperidade da nossa população. 

QUEM ASSINA

Álvaro de Souza 

Ana Maria Diniz 

Ana Paula Pessoa 

Anis Chacur 

Antônio Mathias 

Armínio Fraga 

Betânia Tanure 

Candido Bracher 

Daniel Castanho 

David Zylbersztajn 

Eduardo Bartolomeo 

Eduardo Sirotsky Melzer 

Eduardo Vassimon 

Elie Horn 

Eugênio Mattar 

Fabiana Alves 

Fabio Barbosa 

Fernando Simões 

Guilherme Benchimol 

Guilherme Leal 

Guilherme Quintella 

Jayme Garfinkel 

Joaquim Levy 

José Alberto Abreu 

José Berenguer 

José Luiz Setúbal 

José Olympio Pereira 

Hélio Mattar 

Horácio Lafer Piva 

Irlau Machado 

Luiz Fernando Furlan 

Marcelo Bueno 

Marcelo Kalim 

Marcos Molina 

Maria Silvia Bastos 

Paulo Caffarelli 

Paulo Hartung 

Paulo Kakinoff 

Paulo Souza 

Pedro Bueno 

Pedro de Camargo Neto 

Pedro Parente 

Pedro Passos 

Pedro Wongtschowski 

Ricardo Marino 

Roberto Klabin 

Roberto Rodrigues 

Rodrigo Galindo 

Rubens Menin 

Rubens Ometto 

Tito Enrique Silva Neto 

Walter Schalka 

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