A Estapar teve R$ 1 bi de prejuízo desde 2017 – mas está voltando ao azul

A Estapar finalmente encontrou uma boa vaga?

Pela primeira vez nos últimos dez anos, a maior operadora de estacionamentos do Brasil reportou um segundo trimestre consecutivo no azul.

No terceiro tri, a empresa fez um lucro de R$ 3,1 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 14 milhões no mesmo período do ano passado. 

Pode parecer pouco para uma empresa que faturou quase R$ 400 milhões no tri, mas o CEO Emílio Sanches, que assumiu no fim de 2022, disse ao Brazil Journal que “um dos nossos objetivos era transformar a empresa em lucrativa, mas sem vender sonhos impossíveis. Daqui para frente, a tendência é termos lucro todo trimestre.”

O executivo disse que a Estapar também deve fechar o ano no azul – nos nove primeiros meses do ano, ela acumula um prejuízo de R$ 5,6 milhões. 

No terceiro trimestre, a Estapar viu sua receita subir 13,9%, para R$ 399,5 milhões, enquanto o EBITDA ajustado teve alta de 19,3%, chegando a R$ 77,2 milhões.

O churn dos contratos tem se mantido em patamares historicamente baixos. No terceiro tri ficou em 0,26%. Para efeito de comparação, em 2020 – no ápice da pandemia – era 10x maior (2,5%).

A Estapar também viu sua alavancagem sair de 5,5x no ano passado para 2,8x agora. Emílio diz que a meta é mantê-la entre 2,5x e 2,8x, abaixo dos covenants de 3x que a empresa precisa cumprir.

A Estapar vem apostando no segmento de alugadas e administradas, que são contratos de operação de estacionamentos em espaços de terceiros – o que exige menos capex. No trimestre, essa área foi a única que apresentou crescimento em vagas, uma alta de 17,8%.

Isso, segundo o CEO, foi fruto de uma estratégia de transformar a Estapar em uma “marca de desejo” entre prédios e estabelecimentos comerciais. 

“Quero ser o ‘desejo de consumo’ do meu contratante, seja por branding ou por trazer melhores soluções para ele e os clientes dele,” disse Emílio.

Para sustentar esse argumento, a Estapar vem apostando na digitalização. No ano passado, lançou o Zul+ – uma espécie de super app para os donos de carros. 

No aplicativo, além de poder pagar os tíquetes de estacionamento da empresa e reservar vagas, os motoristas podem pagar a Zona Azul em 19 cidades e até quitar outros gastos do veículo, como multas e o IPVA.

Resultado: 19,8% da receita da Estapar já veio diretamente pelo aplicativo. 

Emílio quer aumentar essa conta e já está em fase de testes com outros serviços, como a disponibilização de consórcios e seguros veiculares por meio de parcerias com empresas do setor no modelo de revenue share

“Já temos sete seguradoras e dois grandes operadores de consórcio no sistema,” disse.

Na Bolsa, a Estapar ainda busca uma rota para reconquistar investidores. 

A empresa precisou fazer seu IPO em um momento péssimo de mercado – dois meses após o início da pandemia – porque precisava pagar a concessão da Zona Azul em São Paulo. 

Sem demanda, André Esteves  – que já era o controlador da empresa com os FIPs Maranello, Valbuena e Tempranillo – ficou com a maior parte da oferta.

Com as pessoas trancadas em casa, os estacionamentos ficaram às moscas, e a empresa acumulou R$ 1 bilhão de prejuízos desde 2017.

Do IPO até abril de 2023, a ação despencou 87%. 

A partir daí, a Estapar ensaiou uma recuperação, mas os papéis estacionaram entre R$ 3 e R$ 4. A empresa vale R$ 681 milhões na B3.

O Citi, o único dos grandes bancos que ainda acompanha a empresa, reiterou a compra no papel em setembro, com preço-alvo de R$ 6. Rodolfo Amstalden, que acompanha a empresa na Empiricus, diz que a ação vale “pelo menos R$ 8.” 

A ação fechou hoje a R$ 3,14. 

Independente dos fundamentos, a Estapar precisa aumentar a liquidez de seu papel como forma de destravar valor. O CEO disse que isso está nos planos e que, dependendo do mercado, pode haver um follow-on no ano que vem.

“Os números estão bons e os investidores estão começando a olhar para a Estapar. Então, em determinado momento vamos precisar conversar com os controladores para aumentar a liquidez.”

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