O ângulo das startups brasileiras na corrida da IA; e o ‘ChatGPT’ da inclusão

NOVA YORK – O Brasil dificilmente terá uma grande empresa na corrida global da inteligência artificial – um negócio trilionário cuja infraestrutura está sendo dominada pelas Big Techs americanas.

Então, qual é o espaço para as startups brasileiras?

As oportunidades estão na aplicação de soluções em que os clientes possuam dados proprietários que os coloquem em posição de vantagem relativa – um moat contra a competição estrangeira.

Essa foi a visão compartilhada por três executivas de venture capital num painel do MBA Brasil, a conferência anual de alunos brasileiros que cursam as principais escolas de negócios americanas e aconteceu sábado na Columbia Business School.

“A inteligência artificial oferece infinitos cérebros de PhDs a um custo marginal quase zero,” disse Mariana Donangelo, uma sócia da Kaszek. “Onde você vai querer empregar esses cérebros?”

Para ela, é difícil ver como um “player local vai ganhar de um player global” no desenvolvimento de ponta. O diferencial estará na posse dos dados e em como aplicá-los para entregar soluções escaláveis.

“Obviamente o momento é da IA,” disse Lara Lemann, fundadora da Maya Capital. “Mas no Brasil veremos mais plataforma, aplicativos AI-enabled, não inovação.”

O mesmo vale para outros países da América Latina. Ela citou como exemplo a Finkargo, uma empresa colombiana de comércio exterior que é uma de suas investidas.

Segundo Lara, o simples fato de criar uma aplicação de IA não significa que o negócio tenha potencial de atrair investidores. É preciso demonstrar escalabilidade.

O capital para América Latina está mais seletivo – e negócios que só existem no PPT terão dificuldades para encontrar financiadores.

Lara listou três requisitos essenciais para validar um founder: obsessão para resolver o problema a ser atacado, ser um ímã de talentos, e ter alinhamento com os sócios.

“O desentendimento dos fundadores é uma das principais razões de o negócio não dar certo,” disse ela. “Como dizem nos EUA, é preciso chemistry.”

Sullyen Almeida, sócia da Monashees, disse que a ‘bolha’ de investimentos em 2020 e 2021, quando os juros internacionais eram próximos de zero, ajudou a colocar a América Latina no mapa dos VCs.

Regionalmente, o Brasil saiu na dianteira em áreas como fintechs e ecommerce.

Agora, a inteligência artificial começa a transformar negócios nas finanças e em breve impactará o setor jurídico – com os modelos de grande linguagem levando a disrupção ao mundo dos advogados.

“Em fintechs, a primeira onda foi B2C. Agora é B2B, impactando o trabalho de CFOs e a análise de crédito,” disse Sullyen.

Ela citou como exemplo a OpenCo, que com o uso de IA obtém uma recuperação de crédito até quatro vezes maior por um terço do custo.

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Falando em inteligência artificial, você conhece a Deb?

É o ‘ChatGPT’ DEI, que dá respostas de acordo com as políticas de diversidade, equidade e inclusão.

Criado pelo Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), é talvez a primeira IA do mundo dedicada a questões étnico-raciais.

Luana Génot, a CEO do ID_BR, disse que a tecnologia vai “ajudar a derrubar muros” e continua otimista com o avanço das ações de inclusão, a despeito do backlash contra as políticas DEI.

“Não devemos nos intimidar. Preciso continuar atuando,” disse Luana. “Há oportunidades para continuarmos avançando de maneira contínua.”

Ainda no painel sobre inclusão, Sergio Ricardo Santos, ex-CEO da Amil e um ex-vp da Dasa, disse que foi contra quando o RH de uma das empresas que liderou propôs fazer contratações “a cego” para ampliar a diversidade.

“As pessoas têm uma história, uma personalidade, quero as pessoas por inteiro,” disse ele, que hoje é chairman da Rede OneCare e vp de estratégia da Galileu Health Care.

Ao narrar sua experiência de, por muitos anos, ter vivido uma carreira “subótima” porque tinha dificuldades de viver naturalmente como um homem gay, Sergio disse que as pessoas não deveriam se sentir intimidadas – e as lideranças têm o papel essencial de assegurar que todos sejam ouvidos.

“É óbvio que a sociedade vive em um estado subótimo,” afirmou.  “As pessoas precisam dar o melhor delas – e não o atual subótimo.”

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