Quando chegou ao Brasil para comandar a expansão da empresa suíça de fertilizantes Eurochem em 2020, o russo Daniil Sergunin logo teve um choque de realidade.
“Me mandaram comprar um carro blindado. E eu nem entendia o significado de blindado,” ele disse ao Brazil Journal.
Ainda que parcialmente protegido da violência de São Paulo, Daniil começou a sofrer com outras questões: o rodízio de veículos, a tolerância zero do Brasil com bebida e direção (na Suíça, por exemplo, pode-se dirigir após beber três pints sem infringir a lei) e o fato de não encontrar carros nas mesmas condições nos aplicativos.
Foi aí que veio o momento Eureka.
Daniil percebeu que poderia criar um “Uber de blindados” mirando os consumidores de alta renda: a Rhino nasceu no fim de 2023, e seu aplicativo chegou às lojas do Google e da Apple em janeiro deste ano.
De lá para cá, a Rhino atraiu 150 mil usuários. O detalhe é que a startup inicia viagem em apenas algumas das regiões mais ricas de São Paulo – um quadrilátero que compreende o Brooklin, a Cidade Jardim, passando por Pinheiros, Bela Vista e Vila Clementino, até chegar ao aeroporto de Congonhas.
Agora, Daniil quer avançar para outras áreas de São Paulo – e por isso a Rhino acaba de levantar US$ 3,2 milhões (cerca de R$ 18 milhões) em uma rodada seed liderada por um fundo de investimento europeu, um sindicato de investidores de Dubai e investidores independentes, como Vitaly Bedarev, o ex-general manager do Uber na Rússia.
Com o dinheiro, Daniil projeta chegar a um faturamento bruto de R$ 50 milhões no ano que vem – ele não deu estimativas de quanto deve ser a receita este ano.
“Estamos crescendo 40% ao mês desde o início da operação,” disse o CEO.
Além de expandir para outras áreas de São Paulo,
Daniil também quer usar o dinheiro para fazer as primeiras corridas no Rio de Janeiro, onde, segundo ele, está a maior parte dos 30 mil usuários que estão na fila de espera do aplicativo.
Para isso, a startup vai ter que ampliar a frota. No início, a Rhino precisou comprar alguns veículos (Daniil não abre o número total de carros) para fazer as primeiras viagens. Depois, conseguiu fazer parcerias com algumas locadoras, e esse deve ser o principal modelo de negócio daqui para frente.
“Não fechamos as portas para novas compras de veículos, mas esse percentual representará muito menos das nossas corridas,” disse.
Apesar de ser um modelo similar ao Uber e à 99, a Rhino não tem o poder de atração de motoristas dessas companhias – afinal, qual motorista tem condição de alugar ou comprar um blindado?
Por isso, a empresa decidiu contratar seus motoristas, que trabalham turnos de 8 horas por dia. Dessa maneira, o veículo fica 100% do tempo na rua, com três motoristas diferentes no dia.
O salário médio do motorista é de R$ 4 mil.
“Até pelo nível dos nossos clientes, buscamos os melhores motoristas, e temos pessoas que falam inglês, espanhol e até japonês,” disse Daniil.
Além do serviço on demand e do agendado (que representa a maior parte dos pedidos), a Rhino quer ampliar as vendas para o B2B, de olho nos cargos de C-level e diretoria. Este ano, a startup já fechou contratos com a Vivo e a Azul.
“Estamos perto de fechar outros grandes contratos e isso não vai afetar a velocidade do serviço para o usuário comum,” disse.
Atualmente, segundo o CEO, um usuário espera cerca de 7 minutos para conseguir um carro on demand, número que a Rhino também quer reduzir nos próximos meses.
Daniil também vê a empresa alcançando o breakeven no segundo semestre de 2025 – e só aí partir para uma rodada maior.
O fundador vê interesse de investidores para grandes aportes no futuro e mira no exemplo da Wheely, a startup fundada por outro russo, Anton Chirkunov, que opera em Moscou e Londres e já levantou cerca de US$ 43 milhões em equity.
“Temos um tipo de cliente que fica conosco se ele gostar da experiência,” disse Daniil. “A retenção é muito alta: já temos muitos clientes que pedem o serviço três vezes ao dia.”
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