A Leva quer dominar as motos elétricas – antes que chineses e japoneses acordem

Motos são um exemplo perfeito de polarização: há quem ame, e há quem odeie.

Nada no meio. 

O fato é que elas cumprem um papel econômico relevante. Na Itália do pós-guerra, por exemplo, a Vespa, criada pela Piaggio em 1946, ajudou a reativar a economia ao oferecer uma alternativa barata e estilosa de transporte. 

No Brasil, a frota de duas rodas cresce exponencialmente, e hoje é 40% maior do que há 10 anos, um salto impulsionado pelas vendas na região Norte, onde a oferta de mobilidade é limitada. 

Outro fato é que as motos poluem muito mais do que os carros — até 10 vezes mais, em se tratando de hidrocarbonetos. 

Seria um motivo para eletrificar a frota – mas a indústria ainda não se convenceu disso. 

“O apelo ambiental existe, mas a moto elétrica atrai mais pela facilidade de mobilidade,” disse Gabriel Pilão, que daqui a alguns dias lançará a Leva, uma marca de motocicletas elétricas. 

Com ou sem ganho ambiental, o jovem empresário — filho de Milton Pilão, o CEO da Orizon, e da empresária Alice Ferraz — enxerga nas motos elétricas um negócio promissor. 

A Leva Motors espera vender 120 motos por mês no primeiro semestre de operação, e pretende mais que dobrar este volume até o final do próximo ano. 

Em 2026, a meta é despejar entre 1 mil e 2 mil motocicletas elétricas por mês nas ruas brasileiras. A Leva já tem 600 reservas. 

Uma primeira rodada de investimento garantiu a Pilão e seu sócio, o engenheiro João Borges Paiva, R$ 2 milhões para colocar a operação de pé. A entrega das primeiras motos será viabilizada por meio de dívida de curto prazo, entre R$ 6 e R$ 7 milhões. 

Com essa estrutura financeira, Pilão pretende evitar o destino da Voltz, a montadora brasileira que chegou a emplacar mais de 15 mil motos elétricas mas entrou em recuperação judicial no final do ano passado, com dívidas de R$ 331 milhões. 

“A Voltz não quebrou por causa do produto, quebrou pelo mau planejamento financeiro,” Pilão disse ao Brazil Journal

O problema da Voltz foram os gargalos do crescimento. A montadora, segundo ele, adotou um modelo tradicional de produção, controlando todas as etapas, da montagem à distribuição. A Leva terá parceiros. 

As peças são importadas da China e a montagem ficará a cargo da Jabil, uma multinacional americana que, no Brasil, fabrica equipamentos de comunicação e energia no modelo OEM (quando a marca terceiriza a produção). A empresa já produz componentes para mobilidade elétrica e pretende expandir a oferta. 

Paiva, o ex-chefe de engenharia da Voltz, será o responsável pela qualidade. “A fábrica da Voltz em Manaus é a mais bonita que eu já visitei, mas a operação era muito centralizada,” disse o engenheiro. “Trago todo o conhecimento dos problemas enfrentados.”  

Na inauguração, a Leva terá oito concessionárias, boa parte delas de ex-parceiros da Voltz que ficaram na mão. Até o final de 2025, Pilão quer estar presente em todas as capitais do País. 

O ganho ambiental é real, apesar de não ser o principal marketing da marca, e pode ajudar em função do perfil do cliente. 

“A atração se dá pela agilidade no transporte, porém nosso público deverá ser formado por profissionais liberais entre 30 e 45 anos, que é o público que se preocupa com o meio ambiente,” disse Pilão. 

O preço das motos varia de R$ 15 mil a R$ 25 mil. É um valor elevado, considerando que uma Honda CG 160, a moto mais vendida do Brasil, custa R$ 16 mil e é capaz de fazer entregas — a autonomia dos modelos da Leva, de no máximo 100 Km, inviabiliza o trabalho.

Mesmo assim, Pilão tem planos para os consumidores de baixa renda, que espera alcançar com novos produtos ou por meio de financiamento numa segunda etapa do negócio.
O mercado dos entregadores ele pretende evitar. “Já existem empresas atuando no modelo de aluguel das motos e estações de troca de bateria. É outro negócio,” disse o fundador. 

Pilão acha que este é o momento ideal para entrar no mercado. A Honda e a Yamaha, que detêm 90% das vendas de motos no Brasil, só vão lançar modelos elétricos em 2026. E os chineses, por enquanto, estão focados nos carros. 

No trânsito, outra vantagem da eletrificação é acabar com aquele barulho irritante de escapamento aberto. Mas a buzina continua.

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