O hotel de luxo que quer ter o Pulso de São Paulo

O conceito para o Pulso Hotel nasceu numa conversa casual entre o empresário Otávio Suriani e o arquiteto Guilherme Wisnik. Os dois falavam de uma passagem do clássico de Claude Lévi-Strauss, segundo a qual “no Velho Mundo, o tempo trabalha a favor; aqui [nos tristes trópicos], ele destrói.”

“E se pudéssemos mudar essa narrativa?” questionou Otávio, um ex-futuro cineasta tornado empreendedor hoteleiro. “Sempre tive o desejo de que este hotel expressasse de alguma forma o terroir da região,” ele disse ao Brazil Journal

O Pulso – numa rua tranquila perto da esquina da Faria Lima com a Rebouças – abriu em setembro, a mais recente novidade num segmento de luxo dominado por nomes como Fasano, Rosewood e Tangará.

Otávio diz que a proposta era criar “um refúgio de luxo não excludente” que dialogasse com a diversidade de São Paulo. 

“Queríamos que cada detalhe refletisse o concretismo, o cosmopolitismo e a imigração que moldaram a capital, que fosse um espaço que reunisse essas narrativas e traduzisse essa complexidade paulistana para que o hóspede saia do hotel com uma percepção mais profunda e autêntica da cidade.”

O projeto de Arthur Casas tem fachada de concreto aparente e madeira clara, suavizada por um jardim interno que conecta os ambientes à luz natural. “Cada detalhe foi pensado para criar um ambiente rico em significados e em conexão com a cidade,” me disse Casas, que aliás mora num dos 68 apartamentos residenciais do complexo. 

São apartamentos de 232 metros quadrados – cerca de R$ 40 mil por metro quadrado –cujos residentes podem usar o spa e a piscina do hotel. (Quase todos já estão vendidos.)

Os três andares do Pulso ficam embaixo da torre residencial, num terreno triangular delimitado por três ruas. A entrada principal, na Rua Henrique Monteiro, é emoldurada por microflorestas de ipês e costelas-de-adão, concebidas pelo paisagista André Paoliello.

Os quartos também têm design minimalista, com mármore verde, couro e colchas artesanais, criando um ambiente de luxo discreto e conforto. São 52 apartamentos de 32 m² e cinco suítes de 64 m², todos equipados com a Alexa, a assistente virtual que controla as luzes e cortinas por comando de voz.

No lobby, em vez da recepção tradicional, há uma pequena mesa onde o check-in é feito. A atmosfera é acolhedora e descontraída, reforçada pelos uniformes de linho cru desenhados por Iara Wisnik que substituem o formalismo típico dos hotéis de luxo.

O Pulso tem mais de 300 obras de arte que adornam tanto as áreas comuns quanto as suítes, incluindo pinturas, fotografias e gravuras de nomes como Andrés Sandoval, Fernando Vilela, Nelson Kon, Evandro Carlos Jardim e Volpi. Tudo foi escolhido por Wisnik, o curador artístico.

O mobiliário tem peças de designers brasileiros renomados – como Jorge Zalszupin e Sérgio Rodrigues – e itens vintage.

O hotel tem um restaurante e uma boulangerie, ambos comandados pelo chef Charlô Whately, cujo menu mescla técnicas da culinária francesa com a cozinha brasileira.

“Nosso objetivo era criar pratos que dialogassem com a sofisticação do hotel, mas com um toque despojado,” me disse Charlô. O cardápio inclui peixes frescos do dia, polvo, moqueca, cordeiro, bacalhau e entrecôte, todos pensados para agradar tanto o público local quanto os visitantes internacionais.

O Sarau Bar, por sua vez, se tornou um dos pontos mais vibrantes do hotel, com coquetéis exclusivos assinados pelo bartender Gabriel Santana e uma programação musical curada por Rômulo Fróes.

O espaço tem sido frequentado por um público variado, desde jovens na faixa dos 25 anos até veteranos da cena cultural paulistana, como Ercília Lobo, a viúva do saudoso Zuza Homem de Mello, e que aos 80 anos ainda é assídua nos shows intimistas.

As diárias custam em média R$ 2.500 – cerca de 15% abaixo dos concorrentes – e os hóspedes variam de 30 a 50 anos; cerca de 40% são estrangeiros. Desde que abriu, a ocupação tem rodado na casa dos 65%. 

A família de Otávio é dona do Grupo Estancorp, que controla a incorporadora Concivil e a administradora hoteleira que comanda as marcas Estanplaza, Grand Estanplaza e Estanconfor. O Pulso é a estreia do grupo no segmento de luxo.

Otávio fez cinema na FAAP mas abandonou a arte para se envolver com o negócio da família. Morou dois anos em Paris – o que o ajudou a dar ao Pulso uma perspectiva global e valorizar a “energia única” de São Paulo. 

“Paris é linda, mas parece uma cidade do interior comparada a São Paulo. O Sesc, por exemplo: em qual outro lugar do mundo existe um projeto como esse?”

O empreendedor está sempre em busca de experiências autênticas: passou o último réveillon na Ilha do Cardoso, em uma casa de pescador, sem eletricidade, convivendo com a natureza e refletindo sobre o verdadeiro significado do luxo. “Hoje, o luxo é ser único,” diz ele, ecoando uma aula que teve com um vp da Hermès quando estudava em Paris.

Outra lição que aprendeu no MBA foi quando os alunos compararam o retorno sobre o investimento (ROI) médio de diferentes setores ao longo dos últimos 100 anos, olhando o mercado americano. 

“Lá no topo você vê bancos, seguradoras, e outros setores com retorno robusto. Lá embaixo, o segundo pior ROI da lista era hotelaria – só é melhor que o das companhias aéreas. Olhei aquilo e pensei: ‘Que beleza!’,” relembra, rindo. 

Isto o motivou a repensar o conceito de valor no mercado hoteleiro, buscando na singularidade a chave para fugir do padrão de um ROI ruim.

O segundo Pulso já está a caminho: também vai ser na Faria Lima, mais próximo do Shopping Vila Olímpia e do JK Iguatemi. 

“A região possui alta demanda de hospedagem devido à concentração de multinacionais, bancos e fundos de investimento,” disse Otávio. “Já temos o terreno e o projeto aprovado. Estamos aguardando o momento certo para iniciar a obra, mas a abertura está prevista para 2028.”

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