Winter is coming – para o Brasil.
Já nos EUA, sombra e água fresca.
Esse é o prognóstico da Kinea para 2025.
Em uma carta que será publicada amanhã, a gestora que administra R$ 132 bilhões decidiu usar a metáfora das quatro estações de Antonio Vivaldi para analisar a conjuntura do ano que vem.
A Kinea dividiu os ativos em quatro fases: na primavera, colocou os ativos que iniciam novos ciclos; no verão, aqueles próximos da maturidade mas que ainda tem oportunidades de ganhos; no outono, os que iniciam uma tendência de declínio; por último, os ativos em situação complicada ficam no inverno.
Nas estações mais quentes estão basicamente todos os ativos ligados à economia americana. Segundo Ruy Alves, sócio e gestor da Kinea, a nova administração Donald Trump deve dar novo fôlego à bolsa americana, em especial para os ativos fora das Magnificent Seven.
O gestor disse que nem uma eventual pressão inflacionária nos EUA, causada tanto pelas tarifas de Trump quanto pelas novas regras anti-imigração, deve ser suficiente para causar problemas para a economia americana.
O gestor também enxerga que o Department of Government Efficiency (DOGE), que será liderado por Elon Musk, pode trazer bons resultados para os EUA.
Os juros, no entanto, devem permanecer em um nível mais alto do que era esperado pelo mercado anteriormente.
“Mas Bolsa não é juro baixo, bolsa é crescimento econômico – e a Bolsa americana é de alto crescimento,” Ruy disse ao Brazil Journal.
Ao contrário do que aconteceu nos últimos anos, na visão do gestor as empresas que mais devem ser beneficiadas estão fora das Mag 7. Este ano, as ações das principais big techs tiveram uma alta acumulada de 210%, enquanto o restante do S&P 500 subiu “apenas” 30%.
Além disso, a Kinea vê o dólar se valorizando ainda mais em 2025 com a implementação das tarifas de Trump no comércio com outros países.
No “verão”, a Kinea diz que os investimentos ligados a inteligência artificial devem continuar em alta – mas Ruy vê o início de uma maior atenção do mercado com os softwares, e a Microsoft e a Amazon estariam à frente nessa corrida.
No caso da Microsoft, a Kinea prevê que ferramentas como o Copilot e o Azure AI devem sair de uma representatividade de 2% na receita em 2024 para 12% no ano que vem e 23% em 2026.
“Mas continuamos gostando das empresas de chips, em especial a TSMC, Marvell e Broadcom,” disse Ruy.
O gestor também disse que o ouro deve ser outro ativo que deve seguir forte em 2025 – em especial pela demanda chinesa e indiana.
Já o Brasil de Lula está no outono – e não muito distante do inverno.
Com a pressão fiscal e os juros ultrapassando os 14%, Ruy vê o crescimento do PIB caindo para zero no segundo semestre de 2025.
“E sem crescimento, a dívida vai crescer ainda mais rápido,” disse ele, que vê a conta do País com os juros da dívida subindo para R$ 1 trilhão no ano que vem.
Para o gestor, a economia brasileira “rodou com esteroides” nos últimos dois anos, com um impulso fiscal de cerca de 3% do PIB. Em 2025, no entanto, será diferente.
“E o pacote do governo está muito longe de resolver a questão. A economia deveria ter ficado acima dos R$ 700 bilhões,” disse.
Não à toa, 80% do risco da carteira da Kinea está em ativos fora do Brasil – e parte dele está em posições vendidas em moedas de economias europeias e no renminbi.
A Kinea enxerga tanto a China quanto a Europa no inverno de Vivaldi – austero e sombrio.
Segundo Ruy, mesmo com o Partido Comunista tentando criar maneiras para retomar a pujança de outrora, a economia chinesa não se recupera e o governo Trump não vai ajudar Xi Jinping em nada. Muito pelo contrário.
A Europa, por sua vez, está em situação ainda mais complicada. Com a produtividade caindo há décadas, além das instabilidades políticas em países como a Inglaterra, Alemanha e França, Ruy disse que o cenário mais provável é uma redução ainda maior da competitividade europeia.
“O chinês dorme 35 horas por semana, enquanto o europeu só quer trabalhar 35 horas por semana,” disse.
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